A Casa do Menor, que completa 35 anos agora em 2021, foi fundada para resgatar e promover as vidas de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social por meio de programas de acolhimento, desenvolvimento comunitário, profissionalização e inserção no mercado de trabalho, visando a inclusão e o protagonismo. Sendo assim, a Instituição criou o projeto “Aprendiz do Bem” que tem como objetivo qualificar e encaminhar os jovens ao primeiro emprego, em parceria com várias empresas multinacionais. A lei 10.097/2000 possibilita que as empresas cotistas contratem entre 5% e 15% de Jovens Aprendizes.
E para contar sobre essa obra social, a ImagineAcredite entrevistou o Coordenador do Programa, Leandro Monteiro, que inclusive foi aluno da Casa. Ele chegou em 2007 sem saber o que fazer da vida, sem perspectiva de futuro, e deu início a sua trajetória dentro da instituição. “Eu moro entre o Morro da Bacia e o Buraco do Boi até hoje. Então o tráfico, as drogas era uma possibilidade muito presente e a Casa do Menor me ofereceu outra alternativa. Aqui eu fiz cursos, aqui eu fiz pré-vestibular social e fui o primeiro da minha família a ingressar numa universidade por conta desse pré-vestibular social que eu fiz aqui e me tornei bolsista pelo ProUni 100%”, descreve.
Monteiro é formado em Gestão de Recursos Humanos e a partir disso a sua trajetória na Casa do Menor começa a ser mais concreta, porque o desejo de estar lá surgiu no momento da capela. “Eu lembro que o padre falava de vocação e eu era aluno e saí naquele momento com uma certeza muito grande que eu seria Colaborador da Casa do Menor, pra fazer aquilo que outras pessoas fariam se tivessem no meu lugar, porque a minha história de vida me levava a ter essa dívida de gratidão com a instituição. Então eu queria que outros jovens da minha comunidade, outros jovens pretos, de origem popular, de território periférico, tivesse a mesma oportunidade que eu estava tendo”.
Em 2009, ele se torna Jovem Aprendiz pela Casa do Menor e foi a primeira oportunidade que teve de aprender e colocar em prática aquilo que a instituição estava dando. “A pedagogia presença, a vivência do dado da arte de amar, ela é uma formação pra vida. E hoje eu percebo que ela é uma grande ferramenta de gestão de pessoas também, porque a partir de tudo que a gente fala, de vivência, de ser presença, de se sentir filho amado, de ter valor, de usar o dado pra nos ensinar, se relacionar com o outro e depois se ver capaz de filho se tornar pai, daquele que era atendido ser capaz de orientar outros jovens, isso é revolucionário porque as empresas sentem isso”, observa Monteiro.
A partir do momento que ele se torna colaborador e posteriormente Coordenador do Projeto Jovem Aprendiz, ele traz a experiência daquele menino que chegou sem saber o que fazer para dentro da sua realidade de gestão, que é levado para as empresas também. “Quando a gente vai negociar e fala que contratar um Aprendiz da Casa do Menor é diferente, é porque a gente fala muito de amor. O Aprendiz quando vem da Casa do Menor, ele tá muito cheio dessa vivência do dado de amar, que rege a nossa pedagogia, a nossa ação e a nossa prática de trabalho aqui na Casa do Menor”, explica Monteiro que é formado também em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, pós-graduado em Gestão Educacional, e agora está cursando Letras pela Universidade Federal Fluminense.
Aprendiz do Bem
O Programa Jovem Aprendiz possibilita que o jovem possa conquistar as suas coisas sem ir para o tráfico, por exemplo, além de ser capaz de ajudar na economia doméstica e investir em si mesmo, como cursos técnicos e graduação. “Se a gente não faz isso e não levanta essa bandeira, o tráfico acolhe. A violência acolhe. É difícil sensibilizar as empresas para atender esse perfil, porque esse perfil ele já é marginalizado. Eles expressam a violência que a própria sociedade fez com ele. E aí o que falta é oportunidade”, relata Monteiro.
“O que vai diferenciar esse jovem de periferia, ao jovem da Zona Sul, que nasceu em berço de ouro, é essa oportunidade. Eu não vejo outra maneira de fazer isso sem ser lutar da melhor maneira possível um bom combate para que esses jovens tenham essa oportunidade de mostrar que eles são capazes. O padre fala que a maior violência não é ser pobre, é não ser amado. E é isso mesmo. A maior violência é você perceber que por conta desse contexto, eles nem sonham. Está no Programa Aprendiz é uma maneira deles voltarem a sonhar de conquistar as suas coisas”, opina.
Desde 2005 até hoje, a Casa do Menor já encaminhou 5 mil Jovens Aprendizes para o mercado de trabalho, porém esse número ainda é pouco. “A gente hoje tá trabalhando pra sensibilizar a Secretaria Municipal de Assistência Social. A gente tá também em contato com o Ministério Público do Trabalho, porque na Baixada Fluminense existe uma grande parcela de meninos e meninas que são vulneráveis e que não estão inseridas dentro do programa Jovem Aprendiz por conta do preconceito que já tem simplesmente por serem da Baixada, por simplesmente terem nascido em uma família em que a violência doméstica é muito forte, ter nascido em um local em que o tráfico é dominante, em que a milícia é dominante”, alega.
Monteiro que está na Coordenação do Jovem Aprendiz desde 2017 afirma que é um desafio. “A gente estava crescendo, mas veio a pandemia, muitas empresas quebraram e a gente tá tendo que se reinventar nesse período de pandemia. E uma nova estratégia é ir junto aos órgãos públicos pra pedir ajuda, principalmente pra esse público que nós atendemos do acolhimento, do Degase que é uma galera em que muitas entidades não sabem como trabalhar com esse perfil, mas a Casa do Menor trabalha com perfil desde a sua existência. A Casa menor existe pra trabalhar com esse perfil, porque a gente sabe que a nossa pedagogia faz a diferença na vida dessas pessoas”, argumenta.
Vale destacar que a Casa do Menor segue as seguintes linhas de ação: Acolhimento Institucional de Crianças e Adolescentes Deficientes, Acolhimento Especializado de Adolescentes Usuários de Drogas, Casa Lares, Cultura, Esporte e Lazer, Educação Infantil, Profissionalização e Inserção no Mercado de Trabalho. A obra social, que não possui fins lucrativos, gasta em torno de R$ 8 milhões ao ano para manter mais de 5.000 crianças e adolescentes usufruindo de creches, cursos profissionalizantes e educação cidadã e o padre fundador da Casa do Menor comemora o fato de que, em mais de três décadas de existência, a instituição tenha conseguido salvar mais de 100 mil jovens.
Ascom ImagineAcredite com colaboração de Leandro Monteiro