Você já ouviu falar no Instituto Padre Haroldo e teve aquela curiosidade para saber como essa obra social começou? O jornalista Sérgio Botelho Júnior entrevistou com exclusividade o Diretor de Tratamento da instituição e presidente da FEBRACT, Roberto Sdoia, para contar em detalhes toda a história da fundação até os dias de hoje. Na oportunidade, o diretor-executivo da ImagineAcredite viajou ao município de Campinas, em São Paulo, onde fica a sede do Instituto e da Federação Nacional das Comunidades Terapêuticas (FEBRACT), para ver de perto a evolução dessa obra de amor.
Para começar, a Instituição foi fundada pelo padre Haroldo Joseph Rahm, que nasceu em 1919, no Texas, Estados Unidos, e entrou para o seminário jesuíta pouco antes da 2ª Guerra Mundial. Ele trabalhava com a juventude e as gangues daquele país. Em 1965, ao chegar no Brasil, ele fundou diversas obras sociais, a exemplo do Treinamento de Liderança Cristã (TLC).
Em terras brasileiras, em 1978, padre Haroldo fundou a Fazenda do Senhor Jesus com o objetivo de acolher pessoas em situação de vulnerabilidade, proporcionando cuidado, educação e atendimento especializado, visando a reinserção social, sempre pautado pelo amor, a ética e a espiritualidade. Os trabalhos começaram com uma comunidade terapêutica masculina e depois veio a comunidade para os adolescentes. Posteriormente, começou o trabalho com as crianças e as mulheres. Segundo Sdoia, o Instituto já atendeu mais de 100 mil pessoas, todas em situações de vulnerabilidade social. No passado, o tratamento para dependentes químicos era muito raro existir, sendo assim o padre Haroldo foi pioneiro.
E para que a obra continuasse em andamento, Padre Haroldo sempre foi cercado por pessoas comprometidas, que gostam de desafios e vão à luta para conseguir ajudar os acolhidos. E é aí que entra a história do presidente Beto Sdoia, que conheceu indiretamente o Padre em 1975 participando do retiro Movimento para Evangelização da Juventude, que tomou uma grande proporção no Brasil. “Esse retiro trouxe para mim realmente uma transformação muito grande na minha vida, eu com 16 para 17 anos. A partir dali eu fui cultivando e Deus foi inspirando uma vocação para o amar e servir, que é o grande lema da vida do padre Haroldo”, lembra.
Em 1996, Sdoia, que sempre teve admiração pelo padre jesuíta, mudou para Campinas, juntamente com sua esposa Lúcia, por motivos profissionais, e teve a oportunidade de conhecer melhor o padre Haroldo em outro retiro. “O padre Haroldo olhou pra mim e falou: eu estava te esperando todo esse tempo. Você demorou pra chegar. Desde que eu nasci estava te esperando. Eu sabia que você viria. Então ele me convidou no final daquele retiro para ser voluntário da espiritualidade na comunidade terapêutica e voluntário na direção aqui TLC em Campinas. A partir daí foi a nossa vida de 1997, até novembro de 2019, período nosso com padre Haroldo”, narra.
E foi com a chegada de Beto Sdoia à presidência que o instituto passou a trabalhar em diversas frentes. “Padre Haroldo nos ajudou na inspiração, mas a ideia foi toda da equipe da diretoria, não só eu e a Lucia, mas a equipe da diretoria, equipe de trabalho que fomos agregando, e o padre Haroldo foi dando a benção. A gente comentava com ele: “padre, nós vamos fundar um serviço, o senhor está de acordo?”. Ele sempre dizia de acordo e sempre abençoando, sempre valorizando, contribuindo, mas ele não se envolveu na fundação, na construção, de nenhum desses serviços. Obviamente que sem o padre Haroldo nada disso existiria”, argumenta.
“Esse convívio com o padre Haroldo realmente foi um grande presente que Deus colocou na nossa vida, muito aprendizado, muita alegria, muitos desafios, mas um homem incansável e uma vitalidade impressionante, uma perseverança, uma vitalidade, uma determinação, uma disciplina nos horários e nunca padre Haroldo chegou atrasado um minuto e nada, nada. Marcava com você e chegava assim em qualquer situação, se estava doente ia do mesmo jeito, mas padre fica descansando, “não, marque eu vou”. Nunca vi o padre Haroldo cancelar um compromisso, por algum motivo. Então realmente entusiasmante assim essa”, enaltece Sdoia.
Vale destacar que Luis Roberto Sdoia presidiu por dez anos o Instituto Padre Haroldo e há um ano, sua esposa, Lúcia Sdoia, assumiu a presidência. Hoje, Beto Sdoia preside a Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas há cinco anos, resultado de dois mandatos, sendo reeleito para mais um de dois anos. É importante enfatizar que o casal Sdoia caminha unido, juntamente com homens e mulheres de bens, para preservar a história, a biografia e o legado desse que é cidadão do mundo, um padre que amou e serviu em tudo
Instituto Padre Haroldo transforma milhares de vidas
E para transformar a vida das pessoas que sofrem com a fome, o desemprego, o uso de substâncias psicoativas, a violência, e demais situações de vulnerabilidade social, o Instituto trabalha com quatro frentes.A primeira é o programa de recuperação, que envolve as comunidades terapêuticas masculina, feminina e as repúblicas. A segunda são os serviços de acolhimento em residência, um para moradores em situação de rua, outra casa para gestantes em situação de rua e uso substâncias, e mais duas moradias para jovens que viveram a vida em abrigos e quando completam 18 anos vão para as repúblicas, pois não tem família.
“A Casa da Gestante não existe igual, uma casa conveniada com a saúde para gestantes moradoras de rua, uso de substância. Essas mulheres, qual é o usual numa cidade, tem cidades inclusive que tem lei, que fazem isso, tem cidades que o usual é essa mulher perder seu bebê, ela não tem pra onde ir, ninguém vai deixar uma mulher com bebê ir pra rua, ela é estigmatizada com uso de substâncias, ela já perdeu. Tem cidades que uma mulher que já perdeu um filho para o Estado, naturalmente vai perder aquele que ela tem no ventre. Então é um serviço inovador que permite que essa criança fique com a sua mãe e vice-versa e permite alguma chance de recuperação, de tratamento, de encaminhamento”, descreve.
“Nós tivemos a primeira casa de passagem do município de Campinas para moradores em situação de rua. Inicialmente eram homens e mulheres, depois homens e transexuais. A população transexual é outra novidade, que é o primeiro serviço de acolhimento para transexual do município de Campinas, ninguém acolhia. Pessoas que passaram pela rua, passaram pelo presídio, sem nenhuma chance. A comunidade terapêutica foi a primeira das primeiras comunidades terapêuticas a acolher trans, transexual homens e mulheres”, detalha.
Já a terceira frente são os serviços chamados de convivência e fortalecimento de vínculos, ligado a assistência social. “São serviços que na nossa ótica são de prevenção ao risco social. Trabalha com crianças a partir de 6 anos e vai até jovens e familiares. São 2 unidades, uma aqui na sede e outra no Campo Belo, que é uma região de Campinas muito carente, com muitas deficiências. Então esse trabalho com as crianças é em número o maior trabalho do Instituto Padre Haroldo, chega atender por ano cerca de 500 crianças. A gente trabalha prevenção com educação. Então no horário contrário escolar as crianças vêm pro nosso espaço, se alimentam e tem atividades de esporte, cultura, artes, socialização, grupo, brincadeira, coisas voltadas as crianças”, explica Sdoia.
A quarta frente de trabalho do Instituto é o trabalho e renda. “Então o trabalho e renda atende a todas as pessoas do Instituto e mais familiares, as pessoas do entorno, quem necessite. Então o curso de qualificação profissional é um programa que não tem recurso nenhum e trabalha tudo com parcerias, a qualificação profissional, fomento ao empreendedorismo. A gente tem um ateliê de costura, trabalha escrita de currículo. Então o fomento ao trabalho em renda ele é amplo e trabalha muito com parcerias”, pontua. Essas quatro frentes de trabalho chegam a atender cerca de 2.500 pessoas mensalmente.
Ascom ImagineAcredite