A Casa do Menor São Miguel Arcanjo faz a diferença na vida de milhares de crianças, adolescentes e jovens há mais de 35 anos, permitindo que cada pessoa seja protagonista da sua própria história. E não é diferente na vida de Valdecir Almeida de Araújo, 52 anos, que trabalha como voluntário na instituição desde 1994. A ImagineAcredite o entrevistou com exclusividade para contar um pouco da sua história. À época, ele entrou para cobrir as férias da presidente da instituição Lúcia Inês, inclusive foi ela quem o convidou.
Depois ele ficou mais 4 meses como voluntário cuidando da parte de atividades com as crianças, e nesse momento a instituição recebeu as pessoas que vinha da Chacina da Candelária, que chocou o país com o assassinato de oito jovens e deixou dezenas de pessoas feridas. “A gente mudou o público-alvo que era até então crianças da comunidade que vinham pra tomar café, almoçar, fazer atividades lúdicas, reforço escolar e voltava pra casa. Tínhamos apenas 20 crianças na casa, e do dia pra noite um público de duzentas pessoas”, pontua.
Essas crianças já eram acostumadas a viver na rua, sem regras e que cheiravam cola de sapateiro, deixando os totalmente destruídos. Com o passar do tempo, algumas dessas crianças sentiram vontade de ficar na instituição e o trabalho da Casa do Menor foi intensificado. “Até então eles passavam a noite e voltavam pra rua no dia de manhã, depois de tomar o café. Então, colocamos as pessoas pra trabalhar como voluntários junto conosco, que fazia reforço escolar, a questão de atividades lúdicas, além de cuidarmos do espaço todo, que era no Sítio lá da rua Valentina”, lembra Valdecir.
Com o tempo, ele passou de educador de pátio para professor de reforço escolar. Depois disso, por falta de alguém para cuidar de todo o trabalho burocrático da Casa, ele foi convidado pra ficar na Secretaria. Posteriormente, foi atender em Miguel Couto, Nova Iguaçu, os cursos profissionalizantes. Nesse período, há quinze anos, Padre Renato, fundador da instituição, foi convidado para assumir Rosa dos Ventos. “Ele perguntou quem gostaria de vim pra cá, Rosa dos Ventos. Eu me prontifiquei juntamente com a Cristina, que hoje é uma pessoa que tá aposentada da casa, mas trabalha como voluntário no Família Vida. E eu tô aqui em Rosa dos Ventos assumindo a parte pedagógica desde então há 15 anos”, relata.
Naquela época a população era acostumada a não ser protagonista da própria história e com a chegada da Casa do Menor o pensamento da comunidade foi mudando. A creche já existia com outro nome, que era Creche Menino Jesus. “Já tínhamos crianças matriculadas e muitos pais vieram perguntar como ficaria a escola, esse princípio que a gente assumiu. A gente não teve outra alternativa a não ser manter a creche, buscando recursos financeiros, nos alinhamos ao NUCREPE, Núcleo de Creches da Baixada Fluminense, pra saber como poder trabalhar. A gente foi cooptando, entre a comunidade, profissionais que já tinham trabalhado na área pra poder tá assumindo a creche”.
Como o projeto é de âmbito educacional, o objetivo é o desenvolvimento comunitário junto às famílias. A creche comunitária atende 75 crianças da comunidade em 3 turmas, sendo com faixas etárias de 2 anos, 3 anos e 4 anos, podendo chegar até 5 anos e 11 meses, com o convênio estabelecido com a Prefeitura local. “A gente tem um convênio com a Prefeitura, onde nos possibilita a pagar algumas despesas, como o salário e, principalmente, o material pedagógico. O material de consumo, de cozinha, a gente consegue através de doações, de projetos ou de pequenos eventos que a gente faz pra poder suprir a necessidade da creche. A creche ela atende a comunidade”, explica.
“As crianças entram às 8 horas, vão pra sala, guardam as mochilas e vão pro refeitório, toma o café, retorna, fazem atividades laborativas, que são atividades de aprendizado, fixação de conteúdo. Tem o intervalo para recreação, poder brincar um pouco, pegar sol, ar livre, conviver com as plantas, com outras crianças também dos outros infantis. Depois retornam pra sala, tomam banho, vão para o almoço, tem a hora do descanso, que não é hora de soninho, é hora do descanso, uma hora e meia eles ficam deitados”, detalha.
“Na parte da tarde é uma parte mais lúdica, brincadeiras laborativas, onde através das brincadeiras tenta reforçar o conteúdo da manhã. Então a gente pode fazer uma brincadeira de longa distância, de obstáculos, então eles vão fixando os conteúdos, tipo trânsito, vida natureza, sociedade, família, dentro das brincadeiras. Às 3 horas começa o lanche. E aí, depois eles voltam pra sala pra mais um reforço de atividade com eles, onde existe cantinhos de leitura, de fantasias, onde eles escolhem o que eles querem fazer. Tem a brinquedoteca, que eles podem vir e utilizar. Tem a sala de cinema que a gente passa vídeos educacionais. E às 5 horas os pais vem buscar eles pra ir pra casa”, complementa Araújo sobre as atividades realizadas na creche.
Questionado sobre a experiência de trabalhar com público, a resposta não poderia ser diferente. “Não tem dinheiro que pague o sorriso de ver alguém parando a gente na rua, agradecendo por ter começado aqui. Temos crianças que passaram pelas creches, pelos cursos profissionalizantes, e hoje estão bem de vida, tão casados, tem sua própria família e fala que a Casa é Menor foi um ensinamento de vida pra eles, porque a gente não busca apenas ensinar o bê-á-bá, a gente busca ensinar a vida, a questão da família, a gente faz muito atendimento de pais, mães”, diz orgulhoso.
E antes de finalizar a entrevista, Valdecir descreveu a Casa do Menor com a palavra amor. “É uma grande escola de vida onde a gente aprende a viver, a amar. E aprende que sofrimento do outro também faz parte do nosso sofrimento, porque a gente tem que ensiná-lo a amar”.
Ascom ImagineAcredite