A Casa do Menor São Miguel Arcanjo, fundada pelo padre ítalo-brasileiro Renato Chiera e a carioca Lúcia Inês, tem como objetivo resgatar as crianças, os adolescentes e jovens que estão em situação de vulnerabilidade social. A instituição com sede no Rio de Janeiro e filiais em Alagoas, Paraíba e Ceará, é responsável por dar uma oportunidade aos jovens sem expectativas há mais de 35 anos. O padre chegou ao Brasil, na Baixada Fluminense, para trabalhar como pároco ao lado de um povo pobre e marginalizado em 1978.
Mas você sabe como iniciou essa obra social? Em 1982, o jovem Carlos Martins, conhecido como Pirata, foi o primeiro acolhido como filho do padre Renato. E para contar melhor essa história, a ImagineAcredite entrevistou com exclusividade sua irmã Celina França Martins, 58 anos, que viu sua vida se transformar após a morte de seu irmão e trabalha como voluntária até hoje na Casa do Menor, ajudando a transformar a vida de milhares de crianças.
Segundo Celina, já no início dos anos 80, Pirata passou a morar na rua, dormir nas calçadas e se envolveu com o narcotráfico. Ele perdeu o pai e não tinha boas relações com a madrasta, passando a se alimentar na casa um, depois de outro. E foi assim até conhecer, nas ruas do Cruzeiro do Sul, o padre Renato que o considerou como filho na igreja Santa Rita de Cássia. Mas por quê? “Como ele era excluído na sociedade, o padre Renato o abraçou, deixava ele dormir na garagem da casa paroquial. Ele encontrava no padre um pai”, explica Celina.
A primeira vez que o padre viu o Pirata ele estava escondido em sua garagem, ferido e marcado para morrer. Foi nesse momento que o padre estende as suas mãos e oferece ajuda para ter novas escolhas e a se reintegrar na comunidade. E um desejo do Pirata era sair do mundo das drogas, mas já era tarde. Aos 22 anos Pirata foi assassinado no muro da Casa Paroquial. Ela narra que conheceu o padre pessoalmente no enterro do Pirata.
“Padre Renato estava na cabeceira do caixão dele chorando. Essa cena me tocou bastante, porque eu também era uma adolescente e ninguém quer ser ligada a irmã de bandido, a irmã de cheirador de cola, irmã de quem fuma maconha. Então eu também tinha vergonha dele, mas quando eu vi o padre chorando na cabeceira dele, eu senti que eu precisava devolver. Eu fiquei com uma dívida com o padre porque ele acolheu o meu irmão como um filho, coisa que dentro da minha família o meu irmão não encontrava”, descreve.
Ao ver o padre chorando, ela pôde conhecer o verdadeiro amor e a doação ao próximo, sem pedir nada em troca. Anos após o enterro de seu irmão, Celina, que na época morava em Palmeirinha, bairro de Belford Roxo, mudou para Miguel Couto, juntamente com o marido, a filha biológica – Taciana, o filho adotado – Luís Fernando, sem saber que o padre Renato era pároco da igreja de lá. E foi com essa surpresa que ela iniciou seu trabalho voluntário na instituição e descobriu o que é ser família.
“Eu ia na igrejinha do lado da Casa do Menor e participava do grupo de liturgia. Eu tinha uns 30 anos, aí eu participava desse grupo, quando a irmã Francisca disse que estava precisando de mãe social na casa das meninas e perguntou se eu não queria tirar as férias da moça que estava com gravidez de risco por 3 meses”, lembra Celina.
Esse trabalho como mãe social na Casa do Menor deu a ela a chance de acompanhar seu filho Luiz Fernando que já estava se envolvendo com as drogas. “Mesmo assim perto do meu filho, eu não consegui proteger tanto, porque o narcotráfico, assim como levou o Pirata, levou Luiz Fernando também. Foi assassinado com 20 anos”, diz emocionada.
E a vida de Celina não foi fácil. Após a morte de seu filho, ela encontrou um alento para seguir em frente, ajudando outras mães a não sofrerem o que ela sofreu. “A opção foi essa, entrar mais a fundo na missão para poder me dedicar mais as crianças, os adolescentes, para outras mães não sofrerem. Eu acredito que é uma oportunidade que Deus está me dando pra levar a esperança e eu vejo Jesus pequeno em cada um deles”, relata.
E ser família, mesmo com as diferenças de opinião, de idade, de crença, o respeito prevalece, a vontade ajudar o próximo se intensifica, com objetivo de ser presença de mãe, amor e carinho na vida de crianças, adolescentes, jovens e adultos.
E apesar da sua vida ser marcada por sofrimentos, em nenhum momento Celina perdeu a fé. Questionada sobre quem é Deus, ela responde que é seu melhor amigo. “Jesus Cristo, meu Porto Seguro, uma força imensa. Nas pequenas coisas Ele está lá, nos pequenos acontecimentos. No acordar Ele tá lá. No canto dos pássaros, nas crianças que você vê se transformando quando a gente tá por perto, tá presente. Deus é essa força da natureza. Deus é amor”, finaliza.
Ascom ImagineAcredite