Há 35 anos a Casa do Menor São Miguel Arcanjo transforma a vida de milhares de crianças, adolescentes, jovens e adultos por meio do acolhimento. Fundada pelo padre Renato e Lúcia Inês, a instituição oferece pedagogia presença, ser família aos acolhidos e seus familiares, além de vários cursos profissionalizantes que dão a oportunidade para o primeiro emprego. É o caso de Tamires Cunha que concedeu uma entrevista exclusiva à ImagineAcredite. Hoje, aos 28 anos, trabalha como Assistente Administrativa da instituição, mas ela chegou bem antes. Aos 12 anos, ela conheceu a Casa do Menor atraída pelos projetos de desenvolvimento cultural.
“Fazia aula de dança, percussão, teatro, aula de música, capoeira, todas as atividades que tinha possibilidade de fazer. Eu tive a experiência de participar de tudo um pouco. Hoje eu trabalho e atuo aqui na Casa do Menor como Colaboradora na parte administrativa. Também já trabalhei como Secretária na parte da secretaria dos cursos profissionalizantes. E vai fazer dois anos que eu tô aqui contribuindo com a Casa do Menor, como Colaboradora”, detalha.
E o que a mais impressionou no primeiro dia foi o acolhimento e o tratamento diferenciado da Casa do Menor. “Você chegar num lugar pra fazer uma matrícula e você ser acolhido com sorrisos, abraços, as pessoas se interessam realmente pra saber de onde você é, sua família, pelo dia a dia, foi isso que me segurou, porque no segundo dia eu já me sentia parte daquela família, já conhecia todo mundo, já falava com todo mundo, já era recebida com abraços”, revela Tamires, ao dizer que a instituição preocupa de fato com o ser humano e isso fez a diferença para ela continuar na Casa do Menor.
Ela atribui a importância da Casa do Menor em sua vida como crescimento, visto que o padre Renato sempre trabalha com a pedagogia presença, de se fazer família. “A gente encontrou uma família aqui, a gente fez muitos amigos, e era prazeroso tá aqui participando desses projetos. Tanto que quando mais nova, quando eu fazia alguma bobeira, ao invés da minha mãe me colocar de castigo, tirar alguma coisa, ela falava assim: “hoje você não vai pra Casa do Menor, não vai pra aula de dança”, isso pra mim era muito doloroso”, conta Tamires, que sempre fazia de tudo para não perder a aula de dança e de teatro.
Depois de um tempo, ela se formou pela Casa do Menor no curso de Informática e teve sua primeira experiência com entrevista de emprego. “Ainda quando eu era adolescente, a Casa do Menor me encaminhou a uma empresa que chamava Generali, na época. E eu participei de todos os processos seletivos Generali. Dali pra frente eu já pude participar de outros processos seletivos e eu me sentia um pouco mais segura. Passei em alguns de acordo com as experiências que eu alcancei aqui na Casa do Menor. E agora retornando, desde 2019 eu posso tá contribuindo e desenvolvendo tudo aquilo que eu aprendi aqui também”, pontua.
E a sensação de sentir família mexeu com Tamires e a impulsionou dar família a outras pessoas. Ela descreve que, quando tinha 14 anos, chegou uma recém-nascida, que foi direto do hospital para a instituição sem mamadeira, fraldas, e isso despertou nos acolhidos o sentimento de olhar para o próximo e ajudar. “Eu chorava, porque eu queria levar a criança pra casa e não podia, porque a criança ficava aqui. A partir daquele momento, despertou esse lado de enxergar o mundo além das quatro paredes da nossa casa, de saber que tem pessoas que precisam”, esclarece.
Hoje, ao dar seu testemunho para os novos acolhidos, ela pede que eles aproveitem pois estão aprendendo com um padre experiente e que só tem amor de pai para retribuir. “Os meninos novos vêm, tem que ir pra capela. Então, às vezes reclamam, óbvio. “Ah, todo dia capela, todo dia ouvir o padre falar, ah, todo dia ouvir a mesma coisa”. Eu já reclamei, mas hoje eu entendo que aquilo ali era uma construção pra eu vivenciar tudo que eu tenho vivenciado hoje. Todo mundo está aqui fazendo o curso porque quer estar inserido no mercado de trabalho. E hoje eu estou inserida numa instituição onde eu comecei. A grande maioria das pessoas que trabalham aqui, se não 80%, são pessoas que passaram aqui quando adolescente, que passaram pelo momento que eles estão passando hoje. São pessoas que começaram como Jovem Aprendiz, são pessoas que começaram na parte do desenvolvimento cultural”, explica.
E a vida de Tamires pode resumir na palavra amor. Todo o ensinamento que ela teve na Casa do Menor são demonstrados em suas atitudes, a exemplo, da adoção de dois adolescentes. “Essa outra instituição onde eu conheci os meus dois meninos, quando fizessem 18 anos não poderiam ficar ali e não tinha pra onde ir. E são negros. E aí eu e meu ex-marido nos sensibilizamos e fizemos esse processo de apadrinhamento junto com as técnicas, assistente social e psicóloga e esse trabalho durante 3 anos. A gente os conheceu com aproximadamente uns 13, 14 anos. E aí, quando eles estavam com 17, a gente os trouxe pra casa. Um mora até hoje, como eu ex-marido, eu o trago pra cá. A gente se divide, fica comigo, fica com o pai. E o outro mais velho já tem a casinha dele própria, já está noivo, já alcança sua autonomia, estabilidade financeira” relata.
Questionada sobre o que representa a Casa do Menor, a resposta é a referência de família, amor, acolhimento e a autonomia financeira. “Desde que eu vim, me mudei de novo pra cá, de Niterói pra cá, eu desejei no meu coração, se eu pudesse arrumar um emprego, eu gostaria que fosse na Casa do Menor. E hoje eu tô aqui. Eu acho que foi muito também fruto de oração, de pedir. Eu queria trabalhar num lugar como a Casa do Menor, até mesmo pela empatia por esse lado social. E hoje eu trabalho aqui. Se tem um trabalho no final de semana, ou se tem um trabalho que a gente pode tá contribuindo, a gente faz também. Essa união, como a gente tem aqui, de ouvir o outro, de saber o que o outro pensa, de tentar construir algo juntos, não tive isso em nenhum outro lugar”, finaliza.
Ascom ImagineAcredite