Depois de anos sem receber o tratamento que lhes eram adequados por parte, principalmente, do governo federal, as comunidades terapêuticas brasileiras atualmente vivem um novo momento. Um momento marcado pelo diálogo, pelo seu reconhecimento enquanto prestadoras de serviço de excelência, mas tudo está tão perfeito mesmo?
Para Egon Schluter, Secretário Geral da Cruz Azul no Brasil, a sustentabilidade financeira, bem como profissionais qualificados para atender os dependentes químicos ainda são o calcanhar de Aquiles das CTs. “Mesmo com o aumento da quantidade de convênios/contratos com o poder público este desafio financeiro continua, pois os valores repassados por vaga não cobrem os custos que as entidades têm. Mas é importante registrar a grande importância dos convênios, parceria com o poder público, tanto na esfera federal, como nos estados e municípios, que tem possibilidade o acesso gratuito ao tratamento”, argumenta.
A fala do Secretário Geral foi diante de um triste dado detectado em uma das comunidades terapêuticas filiadas a Cruz Azul no Brasil: 24% das pessoas acolhidas em 2018, tinham entre 12 a 25 anos de idade, sendo que houve um aumento da demanda por ajuda nos últimos quatro anos. Para ele, o dado evidencia o consumo precoce do álcool e outras drogas por adolescentes e também crianças, muito embora não exista um padrão para o surgimento de um novo dependente químico.
“Uma das motivações para o consumo e dependência muito presente nesta faixa etária é a influência de outras pessoas (amigos, colegas). Outro fator negativo são as estatísticas que apontam que quanto mais precoce é o consumo, maiores as chances de desenvolver a dependência”, acrescenta Schluter.
Diante deste cenário, o líder da Cruz Azul no Brasil reforçou a necessidade da ampliação do número de convênios com os governos federal, estadual e municipal, a fim de oferecer uma capilaridade maior aos que buscam se livrar da dependência química. “Caso houvesse uma disponibilidade maior de vagas totalmente gratuitas ou vagas conveniadas com o poder público, haveria uma quantidade maior de pessoas acolhidas para tratamento nos últimos anos”, observa.
Por isso, Egon elogia a postura do novo governo federal ao sancionar a Nova Lei Sobre Drogas e a Nova Política Nacional Sobre Drogas. Uma vez que entende serem estas normativas as responsáveis por gerar um dos maiores avanços da história para o terceiro setor dando “segurança jurídica para as entidades e também para o poder público, em especial, o respeito a diversidade das modalidades de atendimento e das estratégias adotadas pelas entidades, onde estas se complementam, tendo em vista que atuamos numa área de grande complexidade, tanto nas ações de prevenção, como de tratamento e reinserção social de pessoas afetadas pelo álcool e outras drogas”.
E completa: “A nova política contempla os princípios e as diretrizes defendidas pelas entidades do terceiro setor, em especial, contempla a realidade e particularidade das modalidades de atendimento ofertadas pela sociedade civil há mais de meio século no Brasil. Assim, além de trazer segurança jurídica para as entidades, permite um melhor controle social, fiscalização e financiamento público dos diversos serviços ofertados, respeitando as evidências científicas sobre a efetivada dos mesmos”.
Demandas alinhadas com as ações
As observações de Egon Schluter parecem alinhadas justamente com as ações desencadeadas pelo novo governo, por meio da Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção as Drogas (SENAPRED). Pois foi justamente numa entrevista exclusiva ao Portal Imagine Acredite que o Dr. Quirino, atual líder SENAPRED, anunciou a tomada de diversas medidas que vão de encontro ao uso precoce das drogas por crianças e jovens, bem como ao número de novos convênios.
Por isso, cabe destacar, por exemplo, que ele informou que já neste primeiro semestre foi iniciada a Campanha Nacional de Combate as Drogas, com foco em crianças e adolescentes; além de ter comunicado que o Ministério da Cidadania lançará mais um edital neste segundo semestre para financiar mais vagas em comunidades terapêuticas. Atualmente, o governo federal financia mais de 10 mil vagas.
Ainda naquela ocasião, Quirino pontuou que também nos próximos dias serão adotadas algumas medidas para endurecer o comércio de álcool no país, tendo em vista que está além de ser causador de diversos transtornos, como acidentes e brigas de trânsito, também tem se mostrado uma das principais portas de acesso a outras drogas consideradas ilícitas e que levam à dependência química.
Por Sérgio Botêlho Júnior