Em entrevista ao Portal Imagineacredite, o Frei Rogério, da Igreja das Mercês, situada em Brasília-DF, falou um pouco do seu pensamento sobre a questão dos moradores em situação de rua. Segundo ele, essa problemática não pode ser encarada sob a perspectiva de uma luta de classes, como prevê o marxismo, mas sim como uma ação conjunta que crie verdadeiras condições para retirar os cidadãos desabrigados das ruas.
“Nós precisamos dar as mãos, ou seja, todos nós queremos o melhor pra todos, mas não dá pra cada um ficar no seu quadrado fazendo as suas coisas. Toda. Sociedade precisa se unir, Igreja, Estado, ONGs e sociedade civil, em torno de uma ação comum. É necessário termos propostas concretas para viabilizar a saída das pessoas que vivem nas ruas. Eu defendo que a gente possa formar as pessoas no campo do empreendedorismo, que elas possam empreender, ter oportunidades. Por isso, costumo dizer que para ter um emprego com carteira assinada, você precisa da vontade de alguém, e você não manda na vontade de ninguém, mas ter um empreendimento depende somente da sua vontade”, argumentou.
O frei ainda observou que é preciso acabar com a política do “dar tudo” que é tão presente no Brasil. Segundo ele, tais ações, geralmente promovidas por grupos organizados da sociedade, acabam promovendo um sentimento que faz com que o morador em situação de rua não queira sair daquela condição. “Aí você cria uma estrutura de banho, depois uma pessoa traz roupas, e depois outra pessoa traz comida, então você vai criando condições da pessoa continuar na rua. Qual a solução concreta para ela sair dali? Muitos, por opção, preferem morar nas ruas, mesmo tendo possibilidade de saírem. Não seriam essas condições criadas que fazem as pessoas continuarem nas ruas?”.
“Eu escutei, outro dia, de uma pessoa em situação de rua, que estava exigindo que tivesse um banheiro aberto 24 horas e durante sábado e domingo, para que eles pudessem ter acesso o tempo todo. Eu falei: ‘Cara, você precisa pensar em sair da rua e ter um banheiro que você possa ter, e não querer um banheiro na rua, ter condições na rua pra você ficar mais tempo na rua’. Então eu acredito que essa mentalidade e esse ciclo vicioso têm que ser quebrados”, justificou.
Ainda sobre este quesito, o religioso sentiu que estava com pensamento certo ao conversar com um morador em situação de rua. “Eu aprendi com um morador em situação de rua que disse: ‘Frei, para ajudar alguém, você tem que esperar que ele dê o primeiro passo. Se ele não der o passo dele, nada do que você faça por ele vai surtir efeito, porque é o senhor quem estará andando por ela. O senhor tem que esperar que a pessoa também ande’. É aquilo que o Frei Hans faz: você está aqui na comunidade, mas não vai ser tudo de graça. Você vai trabalhar. Você vai produzir os biscoitos, vai fazer a sua parte e se sustentar com seu suor e com o seu trabalho.”
“Agora essa coisa de dar tudo no Brasil, nós temos que romper essa mentalidade. Outra coisa também é você romantizar a rua. ‘Ah, quem está na rua é a vítima’, aí é o vitimíssimo; ‘são pobres coitados’, ‘vítimas’… Olha, eu andei no Setor Comercial Sul e tem muita gente ali que não é pobre coitado. ‘Ah, mas ele quer ficar na rua, é um direito dele’. Então ele banque o querer dele, ele banque o ficar na rua sozinho e não fique esperando as pessoas trazerem comida, trazerem banho. Ele quer morar na rua e acha que tem esse direito? Então ele se vire”, defendeu.
Por Sérgio Botêlho Júnior