A Casa do Menor São Miguel Arcanjo realizou nesta sexta-feira, 23, a live “28 anos Candelária’s NUNCA MAIS” em homenagem às vítimas e seus familiares, da chacina da candelária, na qual oito crianças em situação de rua foram exterminadas por policiais em frente à Igreja Nossa Senhora da Candelária, no Centro do Rio de Janeiro, em 23 de julho de 1993.
A título de conhecimento, a chacina ocorreu pouco antes da meia-noite, quando um Táxi e um Chevette com placas cobertas pararam em frente à Igreja da Candelária. Em seguida, os ocupantes atiraram contra dezenas de pessoas, pobres e negras, a maioria adolescentes, que estavam dormindo nas proximidades da Igreja.
Durante a transmissão ainda foi tratado sobre os 31 anos do ECA e o resultado das ações pedagógicas realizadas para fortalecer o movimento de garantia dos direitos das crianças e adolescentes, principalmente na Baixada Fluminense. O evento contou com o protagonismo dos adolescentes da “Cia de Artes Presença” composta por alunos da Oficina de Dança e Teatro que foram os responsáveis por tratar sobre as temáticas na live, com apresentações bem ensaiadas.
Segundo o padre Renato Chiera, cerca de 34 crianças são assassinadas por dia no país, onde predomina a cultura de violência e ódio contra os que vivem à margem da sociedade. Há 35 anos lutando para ser presença de família e amor aos abandonados e oferecendo uma nova oportunidade, o padre coleciona histórias de sucesso em recuperação de crianças e adolescentes que passaram a ser usuários de drogas para amenizar as dores que sentiam, mas também guarda lembranças tristes ao se deparar com os assassinatos.
“A maior violência que a nossa sociedade faz é rejeitar uma pessoa. Rejeitar quer dizer: eu não te quero, você não vale nada. Eu gostaria de pedir Candelária Nunca Mais. Eu estava lá, no centro do Rio de Janeiro, onde tem as maiores multinacionais, oito crianças foram barbaramente assassinadas por policiais. Aquilo que aconteceu foi três anos depois do ECA, que nasceu para defender e proteger crianças e adolescentes, e o Estado depois mata. Senti uma dor imensa”, lamenta o padre, que já tinha fundado a instituição há 6 anos.
“Não é só o Estado que mata. A sociedade também mata, porque fala que ‘bandido bom, é bandido morto’. De certa forma é assassina, porque é omissa ou mata mesmo. As chacinas se repetem na Baixada, no Brasil, nas favelas. A nossa sociedade está tão desesperada e pensa que só matando podemos nos proteger desses nossos filhos, porque são nossos filhos que nós não amamos e agora temos medo deles. É duro ver que a sociedade declarou a caça aos filhos do Brasil”, alerta.
Para o padre, a sociedade precisa acolher os abandonados, oferecendo um apoio, amor e uma nova oportunidade. “A Casa do Menor procura dá respostas aos gritos das crianças que a sociedade não deu resposta. A resposta sim de família, nós damos casas lares, programa de acolhimento institucional, onde procuramos criar nas nossas casas com amor para fazer o acolhido se sentir amado. Nós ajudamos o menino a responder ao grito com o programa de desenvolvimento comunitário”, pontua.
Na ocasião, a live mostrou os testemunhos de jovens que chegaram ainda na adolescência na instituição e tiveram suas vidas transformadas. “Eu cheguei na Casa com 14 anos, hoje tenho 25. A Casa do Menor me ofertou tudo o que me fez ser o que eu sou hoje, desde as oficinas de circo, até a profissionalização, que eu fui Jovem Aprendiz. A Casa do Menor já me levou até para outros países. Hoje estar podendo fazer parte dessa obra, ajudando a semear outros jovens, pra mim é importante, porque eles dizem que essas balas são perdidas, mas não são, porque sempre acham os mesmos corpos”, queixa-se a jovem Dandara.
Ascom ImagineAcredite