Augusto Cury: Estamos adoecendo rápido e coletivamente

Na noite da última quarta-feira, 04, foi iniciado o 6º Congresso Internacional Freemind 2019, no município paulista de Águas de Lindóia. O evento contou com a presença de representantes de entidades governamentais, não governamentais e do terceiro setor, a exemplo da Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas do Ministério da Cidadania (SENAPRED) e da Confederação Nacional de Comunidades Terapêuticas (Confenact).

Na oportunidade, para além das homenagens póstumas ao saudoso e centenário Padre Haroldo, que faleceu no último final de semana, o auditório ficou lotado para uma palestra ministrada pelo Dr. Augusto Cury. Com tema “Educação Emocional, um Alicerce Fundamental na Prevenção de Suicídio e do uso de Drogas”, a ação trouxe importantes alertas para a sociedade moderna brasileira e mundial sobre sua saúde mental.

De acordo com Cury, a sociedade precisa aprender a de fato viver a vida, utilizando ferramentas de gestão das emoções e parando de criar seus próprios fantasmas. “Uma criança ou adolescente que não aprende a namorar a vida, que não aprende a ser justo, que não aprende a se abraçar, que não aprende a contemplar a contemplar o belo, ou um adulto que não tem um caso de amor com a sua saúde mental vai estar exposto ao uso de drogas. Mas não apenas as drogas químicas, por exemplo, mas a inúmeras outras drogas”, argumentou.

Além disso, o doutor destacou que as pessoas egocêntricas ou que necessitam de aplausos da sociedade para se sentirem bem estão doentes e contribuindo para a formação de mais pessoas doentes, o que não exclui lideranças políticas e religiosas. Por isso, ele afirmou que “a humanidade tomou o caminho errado e nós estamos adoecendo rápido e coletivamente”.

Essa doença é a Síndrome do Pensamento Acelerado, que de acordo com ele tem feito à humanidade viver o tempo emocional mais rapidamente do que antes da era digital. Em sua análise, em 1950, as pessoas tinham uma expectativa de vida em torno de 50 anos e seu tempo emocional era vivido em três séculos, enquanto na atualidade, quando a expectativa de vida supera os 80 anos, o tempo emocional é vivido em 20 anos.

“Pensar é bom. Pensar com consciência crítica é excelente. Pensar demais sem gestão é uma irresponsabilidade do nosso eu, que representa a nossa capacidade de escolha, esse eu que não exerce o papel solene de gestor da sua mente. […] Nós precisamos urgentemente mudar o status quo da nossa sociedade. Estamos com a mente hiperacelerada, mexemos na caixa preta que lida com o funcionamento da mente e causamos sintomas que simulam o transtorno de déficit de atenção e de hiperatividade, e médicos no mundo todo dando diagnósticos errados e prescrevendo drogas da obediência, estimulantes para tentar domar o cérebro humano”, disse.

O psicólogo Augusto Cury ainda alertou que essa hiperatividade da mente das pessoas aliada a “intoxicação digital” culminou com uma saturação do córtex cerebral, que acabou por tornar os indivíduos mais suscetíveis a abalos e traumas psicológicos. “Todas as vezes que você acelera o pensamento, você abaixa o limiar para suportar as frustrações. No passado, um bullying que era suportado e teoricamente tinha 10 unidades de impacto doloroso, hoje, uma rejeição, uma crítica ou uma ofensa é muito menos suportada, gerando autopunição, angústia e ideias de suicídio. Abaixou o limiar para suportar as contrariedades de maneira assustadora. Causamos um desastre sem precedentes! As nossas crianças estão estressadas, agitadas e ansiosas debaixo da orientação de pais, de valores e de professores notáveis. Elas estão adoecendo e é por isso que com cinco minutos de inatividade elas reclamam”, observou.

Neste sentido, ele afirmou que as pessoas têm ficado avessas ao tédio e à boa solidão e que, consequentemente, elas têm ficado cada vez mais sem a capacidade de desenvolver a sua criatividade. “Porque a criatividade nasce no terreno da solidão, em destaque brando, e não em isolamento completo. Se você não tiver um contato mais íntimo com as suas dores, intenções e se não fizer uma viagem para dentro de si, a tendência é a robotização, que gerará pensamentos estéreis, como a incapacidade de se colocar no lugar do outro”, completou.

Por isso, ele ressaltou que a humanidade precisa abandonar mais o digital e viver mais o real, utilizando as ferramentas de gestão da emoção para administrar todos os obstáculos corriqueiros da vida. “As drogas surgem, na atualidade, como a ponta do iceberg de uma humanidade que não aprendeu ferramentas de gestão da emoção. […] Por isso, Abrace mais e julgue menos. Seja gestor da sua emoção! […] Se a educação mundial continuar a ser cartesiana e racionalista, a espécie humana não tem viabilidade”, frisou.

Por Sérgio Botêlho Júnior

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