Areolenes Nogueira é dona de uma vida ímpar e que do dia para a noite caiu do céu da extrema riqueza, para o inferno da extrema pobreza. Entretanto, como sempre há um lado positivo, foi justamente no momento de maior dificuldade que, por intermédio de Deus, da igreja evangélica e de cidadãos bem-intencionados, que ela fundou sem querer querendo o Instituto Crescer, que conta atualmente com três unidades terapêutica no DF.
Dona de um estilo digno de uma mulher empoderada, Areolenes atualmente beneficia quase 100 jovens de Brasília e região que somente precisavam de uma ajuda para sair das ruas e também da dependência química. Mas esse feito somente ocorreu porque há alguns anos, quando ela – que era acostumada a viver nos ambientes mais caros e requintados do mundo, bem como colocar suas filhas para estudarem nas melhores faculdades da Europa, se ver abandonada por praticamente todos que a rodeavam, e com uma dívida de R$ 2 milhões.
Na época, diante de tantas perdas, tudo que ela pensava era em cometer suicídio. “Mas sou filha única e moro numa casa grande, por causa dos meus pais. Mas eu me questionei o seguinte: ‘como vou deixá-los se eles são velhinhos?’. Então eu tentei negociar com Deus para matar todos nós de uma vez; mas que tudo mudou quando ela – mesmo repugnando os evangélicos – aceitou visitar um grupo de oração, em uma igreja sediada no Plano Piloto da capital federal.
“Chegando lá, eles já estavam orando e eu entrei na roda. Quando terminou, o pastor olhou para mim, perguntou se era minha primeira vez e disse que Deus tinha um plano para mim. Nesse dia, eu estava de salto, então tirei, ajoelhei e comecei a orar. Nisso, ele colocou a mão sobre minha cabeça e começou a falar tudo que somente Deus e meu marido sabiam. Depois disso ele disse: ‘Se você aceitar o meu filho Jesus, eu vou te tirar desse buraco’. Eu disse que aceitaria e, em 20 dias, ele mudou minha vida”, relembra.
Mas a mudança não foi para torná-la rica financeiramente, mas para ajudá-la a pagar a sua dívida de R$ 2 milhões. Por isso, ela conseguiu vender todo o seu patrimônio, com exceção de uma mansão que possui, dentre outras coisas, 26 cômodos, 09 banheiros, sauna, área de lazer e uma imensa piscina. Entretanto, foi nessa dificuldade de vender a mansão que ela foi conheceu um projeto social, desenvolvido dentro daquela congregação, que levava alimentos, agasalhos e o evangelho para os moradores de rua do Distrito Federal.
Espírito do Instituto Crescer
Mas foi junto aos mais pobres que Areolenes viu florescer em seu coração um amor inexplicável em cuidar das pessoas. Até o dia em que um deles a pediu um teto e não somente comida. Surgia ali uma comunidade terapêutica que mais tarde seria o Instituto Crescer. “Foi quando tirei a faixa de vende-se da mansão e falei: ‘Senhor, já que a minha vida está em tuas mãos, estou entregando essa casa também. Já que não é para vender, que o senhor dê o devido destino a ela’.
Foi quando tudo começou a convergir para que eu levasse as pessoas para o único lugar que eu tinha. Nisso, meu marido pegou o carro e foi embora, e eu fiquei pobre e sozinha. Mas como eu tinha confiança em Deus, ele disse para não correr atrás de ninguém. Só sei que comecei a trazer as pessoas para cá e, quando vi, tinha 20 homens dividindo a casa comigo. E aí a gente começou [a comunidade]”, testemunha.
O difícil começo
Nos primeiros três anos da obra, tanto Areolenes quanto seus acolhidos se alimentavam de frutas e verduras oriundos dos restos da feira livre, de doações de civis e pastores, além de pescoço e pés de galinhas doados por uma padaria diariamente.
Entretanto, felizmente, toda essa realidade melhorou quando, com o apoio dos vizinhos, que assinaram o Alvará de Funcionamento, a comunidade terapêutica foi oficialmente regularizada. A partir daí, o Banco de Alimentos do CEASA e o projeto Mesa Brasil, do Sesc, tornaram a mesa dos acolhidos mais saudável e farta.
“Em 2013, surgiu o financiamento de vagas do governo local e depois do governo federal. Mas hoje digo que as comunidades terapêuticas reviveram, principalmente, neste governo, porque nunca tivemos uma política de Estado como temos agora. Nunca tivemos uma SENAPRED, com uma equipe focada na dependência química”, comemora Nogueira.
Além disso, para ela, foi devido à intervenção do Dr. Quirino Cordeiro e do Ministro da Cidadania, Osmar Terra, que as comunidades terapêuticas no Brasil atingiram um nível muito desejado. “Eles acreditaram na gente”, destaca.
O 1º Centro particular de Triagem para pessoas em situação de rua de Brasília está nascendo
Com o apoio popular, governamental e porque não dizer também espiritual, Areolenes conseguiu criar o Instituto Crescer. Entretanto, foi devido às dificuldades encontradas juntos aos CAPs do estado que ela anunciou, com exclusividade ao Portal ImagineAcredite, a criação do I Centro de Triagem para moradores de rua que querem uma vida melhor.
Inicialmente, o projeto visa beneficiar cerca de 30 pessoas e funcionará 24h. Lá, os dependentes químicos poderão passar por um procedimento de desintoxicação com equipes médicas, reaverem seus documentos pessoais, passarem por uma avaliação médica e ambulatorial para em seguida decidirem se querem ou não uma nova vida junto à comunidade terapêutica. “Isso é pura ousadia, porque estamos fazendo por conta própria um serviço que deveria estar na rede do Governo do Distrito Federal”, observa.
Por Sérgio Botelho Junior