Assim como muitas comunidades terapêuticas, grupos de mútua ajuda e outras instituições que trabalham junto ao resgate de dependentes químicos, o Amor-Exigente aguarda ansiosamente pela publicação do edital de financiamento de vagas pelo governo federal. Foi o que informou Roberto Cavalcanti, membro do conselho deliberativo da instituição.
Segundo ele, além de Amor-Exigente, entidades como os Alcóolicos Anônimos, NA, Al-Anon e Nar-Anon esperam que a proposta de financiamento de vagas, anunciada pelo Secretário Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas, do Ministério da Cidadania, Quirino Cordeiro Jr., ao Imagineacredite, seja posta em prática. Uma vez que, em sua ótica, o tratamento ofertado em clínicas é inacessível à maioria da população que sofre com a dependência química.
“Não está em jogo se é suficiente à ajuda aos grupos e às comunidades terapêuticas, pois é necessária e fundamental, tendo em vista que a maioria da população de dependentes químicos e suas famílias não têm acesso ao tratamento através de clínicas e de profissionais especializados, cujas práticas são caríssimas e inacessíveis à maioria esmagadora da população que apresenta o transtorno. Em primeiro lugar estão os cuidados e preservação de vidas às quais, cotidianamente, dezenas são perdidas através do uso de drogas. Também são necessários cursos e capacitação de todos que lidam na área, afinal, além da vida, está a busca de qualidade de vida da nação brasileira”, argumentou o conselheiro.
Cabe destacar que o desejo da instituição está atrelado aos seus maiores desafios e dificuldades, pois, por se tratar de um trabalho voluntário e gratuito, o projeto necessita de pessoas capacitadas a ajudar o próximo, bem como de doações e de espaços para o desenvolvimento do seu trabalho. Sem contar com a demanda por recursos financeiros para percorrer o país em busca das populações que mais precisam do trabalho de Amor-Exigente, que também desenvolve um trabalho de conscientização relativo ao uso de álcool e outras drogas, além de instruir às famílias a lidar com o problema da dependência química.
Diante disso, Roberto Cavalcanti acrescentou que a instituição a qual aconselha também espera um investimento maior do governo federal na prevenção universal e na conscientização sobre o uso de álcool e outras drogas. “Nossa expectativa é de que a prevenção passe a fazer parte dos currículos escolares em todos os níveis de ensino, na formação de professores e que, ao contrário do bombardeio para usar bebidas alcóolicas, os governos federal, estadual e municipal invistam na prevenção em todos os meios de comunicação durante as 24 horas do dia”, detalhou.
Cabe destacar que as medidas elencadas pelo conselheiro de Amor-Exigente estão previstas para serem implementadas ainda neste segundo semestre de 2019, sendo que a campanha nacional contra o uso de drogas lícitas e ilícitas já teve início em diversas plataformas sociais. Sem contar que tais medidas compõem a nova Política Nacional Sobre Drogas, que foi formulada com a ajuda de diversas instituições, incluindo Amor-Exigente e o próprio Roberto Cavalcanti.
“A relação do novo governo com a Federação de Amor-Exigente mudou consideravelmente, aliás, não só com o Amor-Exigente, mas com as diversas instituições que atuam na área de dependência química. O governo está mais aberto e receptivo, reconhecendo os diversos papéis de instituições que exercem a responsabilidade social para com o bem-estar da nação. Eu sou testemunha dos diversos convites os quais me foram formulados por parte do Ministério da Cidadania, do Ministro Osmar Terra e do secretário Quirino Cordeiro Júnior, da Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas (SENAPRED), para participar de atividades ligadas à área”, comemora Cavalcanti.
O Amor-Exigente
O Programa Amor-Exigente tem suas raízes fincadas nos Estados Unidos da América, mais precisamente em New Hope, na Pensilvânia. Ele foi fundado pela psicóloga Phyllis, seu esposo David York e Ted Wachtel, que o desenvolveram a partir de um trauma causado pelo comportamento inadequado de uma de suas filhas adolescentes, que conheceu o álcool outras drogas.
Em fevereiro de 1983, o programa é trazido para o Brasil pelo Padre Haroldo J. Rahm, um americano naturalizado brasileiro. Tudo aconteceu quando ele estava no aeroporto de Miami enfrentando problemas com o excesso de bagagem, onde recebeu um livro intitulado Toughlove, de autoria dos fundadores do citado programa e que contava a história de um casal de terapeutas com três filhas apresentando comportamentos inadequados, mostrando a sua criação e analisando 10 pontos básicos que desestruturam e inibem os pais.
O escrito aponta os caminhos para a solução dos casos de pais e filhos problemáticos, o que acabou chamando a atenção do sacerdote que o leu por completo e deu início ao programa no Brasil. A partir dali o Amor-Exigente se expande por todo o país. Tanto é que atualmente está presente em quase todos os estados da federação, com mais de 1.000 grupos de apoio espalhados e atendendo, semanalmente, uma média de 100 mil famílias com 10 mil voluntários.
Os grupos Amor-Exigente são abertos ao público e baseados nos 12 Princípios comportamentais, nos 12 Princípios Éticos, na Espiritualidade Pluralista e na Responsabilidade Social. Por isso, em seus grupos abertos tudo que é dito fica em sigilo, para garantir o engajamento das famílias, bem como a sua incorporação ao programa.
“Nossa busca é a qualidade de vida. […] O trabalho nos grupos Amor-Exigente é aberto ao público, para famílias que tenham no seu sistema filhos ou parentes apresentando comportamentos inadequados com relação à desobediência às regras familiares, ao limite, a falta de disciplina, a problemas na escola ou com o uso de drogas. Esse é o forte do trabalho com o Amor-Exigente”, destaca o conselheiro.
Por Sérgio Botêlho Júnior