AA completa 72 anos de luta contra o alcoolismo no Brasil

No último dia 05 de setembro, o Alcóolicos Anônimos (AA) completou 72 anos de atuação no Brasil. Formada por homens e mulheres que sofrem com problemas relacionados ao alcoolismo, o A.A funciona como uma irmandade cujo único objetivo dos seus integrantes é parar de beber.

E é justamente por se tratar de uma irmandade, que a estratégia dos seus grupos de atuação é o compartilhamento de força, fé e esperança entre os próprios bebedores, desta forma um ajuda o outro a se recuperar pelo exemplo. Por disso, Ronaldo X, servidor voluntário e membro do AA há 36 anos, lembrou que a instituição funciona com base no legado deixado pelos seus co-fundadores.

“O AA. funciona com base em legados deixados pelos co-fundadores de nossa Irmandade, através dos quais encontramos a recuperação (“12 Passos por de AA”), a Unidade, que nos orienta a convivermos em Grupo e com a sociedade (“12 Tradições de AA.”) e o legado do Serviço, cujo foco vem a ser a execução do serviço em busca do alcoólico que ainda sofre, por meio dos “12 Conceitos para o Serviço Mundial”. Através desses 36 preceitos espirituais, nos preparamos para transmitir a mensagem de A.A. ao alcoólico que ainda sofre”, explana.

Cabe destacar que o AA surgiu em maio de 1935, em Akron, Ohio – EUA, por intermédio do encontro de dois bebedores problemas, que ao compartilharem suas impotências diante do uso da bebida alcoólica e as bravas consequências, perceberam que poderiam permanecer sóbrios. A partir daí e com o apoio de integrantes da religião e da medicina, eles construíram um resoluto Programa de Recuperação para quem é vítima da doença do alcoolismo e deseja se recuperar.

Deste mesmo modo, a irmandade desembarcou no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro, em 05 de setembro de 1947, quando foi fundado o primeiro Grupo de AA na Cidade Maravilhosa. A iniciativa partiu do publicitário americano Herberth L. D., que havia chegado ao país com um contrato de três anos em uma grande multinacional do setor.

“Alcoólico, tinha ingressado num Grupo de AA. em Chicago (EUA), em 1943. Antes de viajar para o Brasil esteve na Fundação do Alcoólico, em Nova York, para se informar se poderia encontrar algum membro de A.A. por aqui. Deram-lhe o nome de Lynn Goodale, a quem Bob Valentine – um amigo de Bill W., teria abordado numa passagem pelo Rio em 1945 e alcançado a sobriedade. Não encontrando Lynn, comunicou à Fundação, pediu outros nomes e colocou-se à disposição para servir como contato no País”, relembra o servidor voluntário da irmandade.

Com a sua predisposição para o serviço em terras brasileiras, em 1947, o publicitário americano recebeu o endereço de outro AA. e alguns livretos e folhetos em espanhol. “Enfim, o cidadão americano, para se manter sóbrio, buscou outro igual para a transmissão da mensagem de AA. (A verdadeira razão do surgimento de A.A., em qualquer lugar). Dessa forma, o AA. chegou ao Brasil”, destaca.

O AA e o preconceito social

Embora seus 72 anos de atuação tenham contribuído bastante para a restauração de vidas afetadas pelo álcool, os Alcóolicos Anônimos ainda gozam da falta de reconhecimento e também de preconceitos por parte da população.

“Mesmo o alcoolismo sendo pela OMS definida como doença, em nossa visão, ela é vista como estigmatizante. Assim sendo, o próprio bebedor problema cria dificuldades para aceitar a programação de AA. O que se tem toda compreensão, pois a doença é do autoengano, a exemplo de “certezas” que ouvimos no mundo do alcoolismo ativo: “Bebo quando quero e para quando quero”; isso para o alcoólatra não funciona. Por sua vez, com as exceções de praxe, a sociedade ainda não reconhece o AA. como um eficaz recurso para o alcance da sobriedade”, argumenta o servidor voluntário.

É importante lembrar que o nome Alcóolicos Anônimos surgiu em 1935, quando o Grupo de Nova York vagava pela cidade em busca de um local em que pudessem ser incluídos da melhor forma. Já que, diferentemente do Grupo de Akron, eles não conseguiram ser incluídos em nenhum outro grupo. Além disso, naquela época, os membros não tinham nome e nem referências, até que passaram a se tratar a si próprios como “um punhado de alcoólicos – pela condição assumida de portadores da doença do alcoolismo – sem nome”, sugerindo, assim, alcoólicos anônimos.

“É importante que saibamos que a doença do alcoolismo é progressiva, irreversível e incurável. É provável que o desafio na recuperação do alcoólico seja ele entender que depois de algum tempo em AA. possa voltar a beber normalmente. Essa postura representa uma ilusão do portador da doença. Por isso, nós, membros de AA., fazemos a programação de recuperação um dia a cada dia. Com essa aceitação e ritmo, somos reproduzidos e voltamos a usufruir de uma vida decente, com a preservação do anonimato individual dos participantes da Irmandade”, completa.

A irmandade que luta de forma independente

Assim como em todo o mundo, o Alcóolicos Anônimos busca resgatar vidas por meio do exemplo e, para isso, aos seus membros não são cobrados taxas ou mensalidades. Uma vez que o grupo se mantém por meio da contribuição dada por seus membros que buscar apenas manterem a sua respectiva sobriedade.

Ademais, o AA. não se envolve com religião, seita, movimento político, organização ou instituição, pois não desejar ingressar em qualquer controvérsia que seja, bem como não apoia e nem combate quaisquer causas. Por isso, ela não realiza estudos, nem busca apoio dos governos constituídos. Sendo assim, o AA. combate o alcoolismo dia após dia, junto a cada um dos cidadãos que buscam uma vida melhor, sem qualquer amarra política ou social.

“Nosso propósito primordial é mantermo-nos sóbrios e ajudarmos outros alcoólicos a alcançarem a sobriedade”, frisa Ronaldo.

Por Sérgio Botêlho Júnior e Thiago Farias

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