Em entrevista ao Portal Imagineacredite, Lucilene Rosendo, ou simplesmente Luci, uma das fundadoras da Fazenda da Esperança, falou sobre os desafios na recuperação de mulheres que sofrem com a dependência química. Segundo ela, o principal desafio a ser vencido é a falta de fé de que elas podem resgatar a própria dignidade.
“Quando a mulher sofre um abuso, ela se sente a pior pessoa do mundo. Ela se sente suja, pecadora, indigna e numa condição de que não pode mais se reerguer. Então o maior desafio é acreditar que pode ter uma vida digna de novo, que pode dar e receber o perdão da família, do agressor, de quaisquer pessoas. E isso acontece porque a mulher se coloca nesta posição de maneira muito mais fácil”, destaca.
Ela também observou que a Fazenda da Esperança teve que mudar a sua política de acolhimento, de forma a permitir o acolhimento de mães e seus filhos, para fazer com que as mulheres conseguissem chegar ao final do processo de recuperação. “Inicialmente, a gente acolhia apenas as grávidas. Daí a gente foi vendo que o processo de recuperação não tinha muito sucesso para aquelas que tinham os filhos fora, porque o coração delas estavam lá com os filhos, naquela preocupação de quem ia cuidar”, relembra.
“Mas a partir do momento que nós começamos a aceitar também que ela viesse com os filhos, houve um salto de qualidade imensa na recuperação das mulheres dentro das Fazendas da Esperança. Porque realmente é uma diferença muito grande quando a mulher vem se recuperar e pode trazer seus filhos e tê-los ali naquele ambiente, como a Fazenda, um ambiente saudável, um ambiente de amor, de fraternidade, onde ela aprende a ser mãe de verdade, onde as crianças têm um tratamento para elas também. Então isso tranquiliza a mulher, tranquiliza a mãe e ela vai muito melhor para o seu período de recuperação, né, tem mais muito perseverança”, analisa.
Para receber as mães e seus filhos, Lucilene disse que houve uma adaptação nas unidades da Fazenda da Esperança, a qual teve que construir casas com quartos maiores, implantação de quartos para bebês, implantação de parquinhos, salas de atividades e brinquedotecas. “Toda vez que a gente vai construir uma Fazenda ou mesmo, por exemplo, até aqui na Fazenda mãe, a gente tá sempre tendo que fazer uma coisa nova, em vista das crianças”, ressalta.
A Fazenda e a pandemia
Durante a pandemia do novo coronavírus, a Fazenda da Esperança adotou uma série de cuidados para manter o distanciamento social e a higienização de seus acolhidos, que – por conta da dependência do álcool e do risco da ingestão do produto pelos acolhidos – foi realizada com água e sabão, além de um amplo trabalho de conscientização interna, baseado nos casos ocorridos Brasil afora.
Neste período pandêmico, a obra também acolheu e vem acolhendo mulheres em situação de rua. “Nós queremos amar Jesus em cada um deles. E esse slogan de “fica em casa” tem que servir para todo mundo, principalmente para aqueles que não têm casa. Então a gente tem que dar casa para quem não tem casa, acolhendo aqueles moradores de rua, para que eles possam ficar em casa”, diz Rosendo ao lembrar que todo o processo de acolhimento seguiu as normas estabelecidas pela Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas do Ministério da Cidadania (Senapred/MC). Por isso, momentos de meditação passaram a ocorrer em ambientes mais arejados, e o número de pessoas por quarto diminuiu.
“Todos esses cuidados são para preservar a vida delas. Além disso, como resultado de todo esse cuidado e amor que 10 mulheres que viviam em situação de rua e que foram acolhidas neste momento de pandemia deram à luz em nossas unidades, e isso nos deixa muito feliz e mostra que estamos no caminho certo”, finaliza a co-fundadora da Fazenda da Esperança.
Por Sérgio Botêlho Júnior