Planejamento urbano e tecnologia: o futuro das cidades inteligentes

Durante a 79ª Semana Oficial da Engenharia e Agronomia (SOEA), o painel sobre “Cidades Inteligentes” reforçou a importância do planejamento urbano contínuo e integrado. Cidades inteligentes são uma resposta inovadora aos desafios urbanos do século XXI. Elas utilizam tecnologia e dados para otimizar recursos, melhorar serviços e garantir sustentabilidade, ao mesmo tempo em que promovem o bem-estar da população. Com o crescimento acelerado das áreas urbanas, essas cidades visam criar ambientes mais eficientes, acessíveis e resilientes, integrando soluções em mobilidade, energia e segurança.

As cidades inteligentes têm o potencial de transformar a vida cotidiana dos cidadãos, aumentando a qualidade de vida e promovendo o desenvolvimento econômico. Isso inclui melhorias em transporte público, gestão de resíduos, uso de energia renovável e segurança pública, criando cidades mais inclusivas e sustentáveis. Ao investir em inovação e na criação de infraestruturas mais inteligentes, essas cidades atraem novos negócios e talentos, fomentando o crescimento econômico enquanto protegem o meio ambiente e oferecem um futuro mais sustentável para as gerações futuras.

Planejamento Urbano: Instrumentos e Ações para Apoiar a Gestão Municipal

A Eng. Civ. Camila Mileke Scucato, Secretária de Estado das Cidades do Paraná e Superintendente do ParanáCidade, destacou que uma cidade inteligente só pode existir quando o planejamento ultrapassa gestões governamentais e está diretamente ligado às necessidades da população. No Paraná, ferramentas como o “Paraná Interativo” são exemplos de como o uso de dados georreferenciados tem auxiliado no mapeamento e direcionamento eficiente de recursos.

Com o “Paraná Interativo”, os 399 municípios do estado têm à disposição uma ferramenta que facilita o planejamento em áreas cruciais, como transporte e infraestrutura. O programa permite identificar as demandas locais e planejar investimentos de forma mais estratégica. Um dos exemplos práticos apresentados foi o programa “Asfalto Novo, Vida Nova”, que utiliza a plataforma para garantir a pavimentação de áreas urbanas, melhorando a mobilidade e a qualidade de vida dos cidadãos.

Além disso, Camila frisou que um dos grandes desafios enfrentados pelos municípios é a continuidade das políticas públicas. Para que o planejamento urbano tenha sucesso, ele precisa ser um esforço de longo prazo, desvinculado de ciclos políticos e focado em um desenvolvimento sustentável. A tecnologia, nesse sentido, se torna uma aliada, permitindo decisões baseadas em dados concretos, o que potencializa o impacto das políticas urbanas.

“Temos ações que precisam ser efetivadas para garantir a sua efetividade, e isso não é ao bel-prazer da gestão atual. Precisamos de planejamento urbano contínuo, que envolva a parte técnica, de infraestrutura, de toda a questão da conectividade e do transporte. Os 239 municípios paranaenses já estão integrados ao Paranacidade, com investimento de cerca de R$ 92 milhões. Para cada R$1 milhão investido, são gerados 46 novos empregos”, pontua.

Tendências de economia circular na Colômbia

O painel também trouxe uma visão internacional sobre o desenvolvimento de cidades inteligentes, com a participação da professora Alejandra Balaguera, da Universidade de Medellín. A especialista compartilhou a experiência colombiana com a economia circular, uma abordagem que tem ajudado o país a utilizar seus recursos de maneira mais eficiente e a melhorar a gestão de resíduos. Balaguera explicou que, embora a Colômbia ainda enfrente desafios em sua matriz energética, as iniciativas de economia circular estão criando novos modelos de negócios sustentáveis.

A transição para uma economia circular visa reduzir o desperdício e promover o reaproveitamento de materiais, uma estratégia fundamental para cidades que buscam ser mais sustentáveis. Balaguera destacou que a Colômbia tem avançado significativamente na criação de infraestrutura para apoiar essa transição, embora ainda precise resolver problemas estruturais, como a gestão de resíduos e a eficiência energética. Essas experiências servem de exemplo para o Brasil, que possui um grande potencial energético e está em busca de soluções inovadoras para a sustentabilidade urbana.

A professora reforçou que a cooperação internacional é essencial para o sucesso dessas estratégias. A troca de experiências entre países permite a adaptação de soluções eficazes em diferentes contextos. No caso da Colômbia, essa colaboração tem sido chave para a construção de um modelo de economia circular, com resultados positivos não só na preservação ambiental, mas também no desenvolvimento econômico.

“Precisamos de eficiência no uso dos materiais, recirculação dos recursos hídricos e renovação das energias”, reforça.

Energias renováveis em cidades inteligentes e sustentáveis

No painel, também foi enfatizada a importância de as cidades estarem conectadas com seus ecossistemas e com as necessidades da população. O professor Carlos Arredondo, da Universidade de Medellín, utilizou o exemplo de Curitiba, que tem se destacado globalmente por suas políticas de integração de energias renováveis e soluções tecnológicas aplicadas à gestão urbana. Curitiba foi mencionada como um exemplo de cidade que consegue equilibrar inovação e preservação ambiental.

Para Arredondo, uma cidade conectada é aquela que consegue integrar suas políticas públicas com as reais necessidades dos seus cidadãos. Isso inclui a criação de ciclovias, parques e espaços públicos que incentivam o uso de transportes sustentáveis e promovem o convívio social. Curitiba, por exemplo, investiu em iniciativas que visam transformar a mobilidade urbana, priorizando o transporte coletivo e a criação de áreas verdes, que melhoram a qualidade de vida e reduzem o impacto ambiental.

Além disso, o professor destacou que as cidades conectadas são aquelas que adotam uma abordagem holística, em que tecnologia e meio ambiente trabalham juntos para criar um ambiente mais inclusivo e sustentável. Cidades que se planejam dessa forma estão mais bem preparadas para enfrentar os desafios do futuro, como a mudança climática e o crescimento populacional, ao mesmo tempo em que melhoram a qualidade de vida de seus habitantes.

“O Brasil é o país com a maior entrega de energias limpas. Aqui tem potencial de energia eólica, fotovoltaica, biocombustíveis. O problema mais grave sobre a energia é que não teremos como armazenar e precisamos descobrir como fazer isso. A evolução da energia renovável gera crescimento e precisamos ajudar não só a economia, mas a sustentabilidade planetária”, ratifica.

Cidades inteligentemente conectadas

A adoção de ferramentas tecnológicas e estratégias sustentáveis pode ser o caminho para que as cidades brasileiras se tornem exemplos globais de inovação urbana. No entanto, é necessário que essas iniciativas sejam conduzidas de forma planejada e integrada, com a participação ativa de todos os setores da sociedade. O painel da SOEA mostrou que o Brasil tem o potencial de liderar o desenvolvimento de cidades inteligentes, mas para isso será preciso um compromisso de longo prazo com a sustentabilidade e a inclusão social.

“Pensar em cidade conectada nos convida a pensar na inovação, nas pessoas e na natureza. A transformação precisa ser sustentável e centrada nas pessoas. É claro que falamos da transformação digital, afinal estamos gerando dados o tempo todo. A transformação já está acontecendo e o conceito mais presente é a evolução orgânica das cidades”, complementa a CEO da Trend Smart Cities, Lucia Beatriz Bellocchio.

Por Tércia Diniz

Assista completo

você também pode gostar...