PF e CGU investigam desvio de R$ 15 milhões em emendas parlamentares destinadas a eventos estudantis

A Polícia Federal, em conjunto com a Controladoria-Geral da União (CGU), deflagrou, nesta terça-feira, a Operação Korban, para apurar o desvio de recursos públicos oriundos de emendas parlamentares voltadas à realização dos Jogos Estudantis Digitais (JEDIS). O foco das investigações são convênios firmados entre 2023 e 2024 pelo Ministério do Esporte com a Associação Moriá, uma organização social com sede no Distrito Federal, que recebeu cerca de R$ 15 milhões para organizar eventos de esportes eletrônicos voltados a estudantes da rede pública.

Com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão em quatro estados — Distrito Federal, Goiás, Acre e Paraná — além do bloqueio de contas bancárias, sequestro de veículos e imóveis, totalizando até R$ 25 milhões em bens congelados. A decisão judicial também suspendeu repasses à associação e proibiu novos pagamentos a empresas subcontratadas, cujos vínculos estão sob suspeita de fraude.

Segundo auditorias da CGU, a execução dos convênios apresentou graves irregularidades, incluindo subcontratações direcionadas, ausência de concorrência e uso de empresas de fachada. Os investigadores identificaram fraudes em três modalidades principais: manipulação de orçamentos apresentados, simulação de concorrência entre empresas e conluio entre contratadas.

As apurações também revelaram que cerca de R$ 8 milhões em emendas parlamentares do Distrito Federal foram direcionadas à Moriá. Embora os nomes dos parlamentares responsáveis pelas indicações não tenham sido divulgados oficialmente e não figurem como alvos da operação, os investigadores seguem analisando os vínculos entre os recursos repassados e os serviços prestados.

A Controladoria-Geral da União destacou que os desvios representam sérios prejuízos à educação pública, especialmente por comprometerem projetos voltados à capacitação digital e à inclusão de estudantes em atividades extracurriculares. Além disso, a falta de transparência na destinação dos recursos agrava a desconfiança sobre o uso das emendas parlamentares, frequentemente criticadas por sua baixa fiscalização.

O nome da operação — “Korban” — remete ao termo hebraico que significa “oferta”, numa alusão simbólica ao uso indevido de verbas públicas destinadas a beneficiar estudantes. Os investigadores também avaliam os indícios de crimes como peculato, fraude em licitação, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

A Operação Korban é resultado de auditorias do Ministério da Transparência e de denúncias recebidas por meio da plataforma Fala.BR. As investigações seguem em andamento, com expectativa de novos desdobramentos e possíveis responsabilizações civis e penais dos envolvidos.

A ação relembra episódios históricos de desvios envolvendo emendas parlamentares, como o escândalo dos “Anões do Orçamento” na década de 1990 e a Operação Voucher em 2011. Para especialistas, a operação reforça a necessidade de um novo modelo de controle e transparência sobre os recursos repassados via emendas parlamentares, especialmente aqueles voltados a organizações da sociedade civil.

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