Na última terça-feira, 12, o Fundo das Nações Unidas (UNICEF) divulgou um relatório em que mostra o crescimento de 47,3% de homicídios de crianças e adolescentes nos últimos 10 anos no Brasil. Segundo o documento, em 2007, foi registrado 8.013 homicídios de crianças e adolescente entre 10 e 19 anos. Já em 2017, esse número havia crescido para 11.804 casos.
Ainda de acordo com o estudo, “desde 2012, a taxa de homicídios de adolescentes é mais alta do que a da população em geral. Ou seja: no Brasil é mais perigoso ser adolescente do que adulto”. Diante disso, em entrevista ao Imagineacredite, o padre Renato Chiera, fundador da Casa do Menor São Miguel Arcanjo lamentou os dados afirmando que eles são o resultado de uma tragédia oriunda de um aborto comunitário.
“Nós estamos aceitando como normal que os nossos filhos sejam mortos e temos sempre uma justificativa para isso. Nós declaramos guerra, enquanto sociedade adulta, aos nossos filhos e ao nosso futuro. Esta é uma realidade que deve nos envergonhar, temos de 5.000 a 11.800 crianças e adolescentes assassinatos, temos crianças na área de conflito armado. É uma tragédia e esses dados infelizmente são verdadeiros, são um grito e nós não queremos ouvir, ao invés disso, nós os matamos para não ouvir o grito e nem ver o dedo que eles apontam para nós, porque a sociedade adulta abandonou os seus filhos”, lamentou o padre.
Questionado sobre onde à sociedade brasileira está errando para que tais dados fossem alcançados, ressalte-se entre 2007 e 2017, o padre destacou a falta de amor como ponto principal. “A criança foi feita para amar e para ser amada. Quando isso não acontece, ela cresce de forma desarmoniosa e agressiva, pois o ser humano não foi feito para ser pisado. Então nos falta família, presença de amor verdadeiro, útero comunitário, perspectiva de futuro e toda essa atmosfera que faz a vida crescer e se desenvolver”, argumenta.
Ainda de acordo com o padre Renato, desde 1999 o Brasil já registrou mais de 200 mil assassinatos de crianças e adolescentes. Diante disso, como resolver essa questão? O relatório da UNICEF recomenda o aprimoramento de políticas públicas, a consolidação de conquistas, além do enfrentamento as ameaças emergentes, em especial o agravamento da crise climática e o aumento do nível de doenças mentais entre jovens.
Já o Padre Renato Chiera defendeu a promoção de ações preventivas junto ao público infanto-juvenil. “Mas para isso precisamos que toda a sociedade esteja disposta e, por isto, deixo aqui o meu apelo a toda a sociedade, para que ela nos ajude a dar possibilidade de trabalho aos adolescentes, que quando olham para o futuro não veem nada. Eles têm sonhos e nós não devemos deixá-los morrer, temos que dar instrumentos para viabilizar este sonho”, salienta.
Cabe destacar que o sacerdote milita em defesa das crianças e adolescentes no Brasil há 33 anos, ou seja, desde que fundou a Casa do Menor São Miguel Arcanjo, em Miguel Couto, na Baixa Fluminense, no Rio de Janeiro. A região é considerada uma das mais violentas e é neste cenário que a instituição está presente, além de outros três estados brasileiros ajudando a promover a vida de mais de 100 mil crianças e adolescentes. “Mas ainda é muito pouco, pois toda essa situação me diz que devemos fazer mais. […] Mas eu, embora tenha uma idade avançada, sinto uma vontade enorme de me colocar ao lado, sem ódio contra ninguém, mas com muita dor abraçar este rosto de Jesus crucificado e abandonado. A situação da criança e adolescente hoje é o grito de Jesus que não se sente amado, mas se sente abandonado e nós devemos responder dando amor, dando presença, dando Deus, dando esperança e dando futuro”, encerra.
Cabe destacar que o Padre Renato Chiera é fundador de uma das principais instituições sociais que acolhe crianças e adolescentes, ofertando atividades no contraturno escolar, cursos profissionalizantes, serviço de creche, além de atividades que promovam a integração e inserção social e comunitária. Além disso, ele carrega consigo uma história que lhe rendeu a alcunha de “O pai dos filhos de ninguém”.
Por Sérgio Botêlho Júnior