Padre Haroldo deixa um legado de amor e abnegação junto aos dependentes químicos

No último sábado, 30, o Padre Haroldo Rham faleceu após sofrer uma parada cardíaca, em Campinas, São Paulo. O anúncio da sua morte foi realizado pelo Instituto Padre Haroldo (IPH), o qual afirmou que ele “está agora nos braços do Pai a quem ele serviu por toda sua vida”.

O seu corpo foi velado no Paço Municipal de Campinas, onde diversos ex-dependentes químicos, religiosos, profissionais do IPH e autoridades se fizeram presentes para homenagear aquele que veio do Texas, nos Estados Unidos, para resgatar a vida de milhares de brasileiros desgraçadas pelas drogas.

Em seu funeral, Lúcia Sdoia, presidente do IPH, destacou que o pioneirismo do missionário em programas sociais voltados aos socialmente mais vulneráveis. “Ele foi pioneiro no cuidado com dependentes químicos, transexuais, pessoas em situação de rua e crianças. […] Hoje continuamos cumprindo este legado, esta missão de acolher os marginalizados”, disse.

Sdoia ainda afirmou que a partida do Padre Haroldo tornou a missão mais difícil devido a sua ausência. No entanto, os trabalhos serão realizados, porque “O que fica para nós é a imagem de um pai cuidadoso, amoroso e de um amigo”. Esta imagem descrita por ela é compartilhada por todos aqueles que um dia pode contar o religioso, que foi responsável por fundar a primeira Comunidade Terapêutica do Brasil.

Aliás, foi durante forte comoção, que marcou o seu velório, que o advogado Marcelo Ribeiro, de 47 anos, foi se despedir do padre na manhã do último domingo. Na ocasião, o advogado, que faz um trabalho de recuperação contra o alcoolismo no IPH há quatro meses, destacou a importância do religioso em sua vida, mesmo sem ter muito contato com ele. “Ele resgatou a minha vida quando mais ninguém acreditava. Eu estava desacreditado até mesmo pela minha família, e o Padre Haroldo foi lá e estendeu a mão”.

O falecimento do Padre Haroldo Rham fez a Prefeitura Municipal de Campinas decretar luto oficial por três dias. Já o Bispo da Arquidiocese de Campinas, Dom Frei João Inácio Müller, celebrou a missa de corpo presente do sacerdote, onde pode elevar a biografia do mesmo ante a sua abnegação junto aos trabalhos sociais desenvolvidos no Brasil. “Gratidão a Padre Haroldo; gratidão e parabéns aos Padres Jesuítas por este luminar. Nele Jesus venceu e a Igreja se regozija”, completou o clérigo.

O que pensava Haroldo Rham aos 100 anos

Nascido em 22 de fevereiro de 1919, neste ano o Padre Haroldo Rham completou 100 anos. Em comemoração a sua longevidade e também ao seu legado, marcado pela fé e abnegação junto aos menos favorecidos, ele concedeu uma das suas últimas entrevistas ao Imagineacredite. Na ocasião, ele lembrou que somente iniciou os trabalhos junto aos dependentes químicos, por ver homens, mulheres e crianças “se drogando demais”.

Ele também lembrou que, na época de fundação da sua primeira CT, não enfrentou grandes dificuldades junto aos dependentes químicos. Uma vez que os problemas de antigamente parecem ser tão atuais. “Era preciso procurar profissionais como psicólogas e assistentes sociais competentes, além de outros sacerdotes que desejavam também trabalhar nesta área. Com os dependentes não havia maior problema do que conseguir que ficassem limpos da droga e do álcool”, disse.

Além disso, o sacerdote comemorou o processo de expansão das Comunidades Terapêuticas no Brasil, que atualmente são mais de 5.000, e elogiou a postura do Estado Brasileiro em ajudar financeiramente essas instituições. “Geralmente, todas as pessoas que ali se dedicam são honestas e trabalhadeiras”, sublinhou.

Entretanto, para ele, qual foi o seu principal legado? Para ele, o seu maior legado é, além de servir a Deus corretamente, o Instituto Padre Haroldo, que foi criado para servir ao próximo. “É um fato: quando eu era jovem, e estudei para ser sacerdote jesuíta, eu o fiz principalmente para poder servir o meu irmão pobre e isto é o mesmo que servir ao próprio Deus”, argumentou.

Aos 100 anos de idade, o padre já estava afastado das suas atividades cotidianas junto aos toxicodependentes de quem ele sentia mais saudades. Uma vez que, para ele, o segredo para a libertação das vidas aprisionadas pelas drogas estava simplesmente no amor. “Isto é muito mais importante do que as técnicas e metodologia. Como em outros setores da vida, todo mundo corresponde ao amor verdadeiro”, explanou.

Já para aqueles que querem viver por muitos anos, o padre afirmou que, para alcançar tamanha longevidade, é necessário viver servir a Jesus e Maria, prestar atenção na alimentação e no sono, bem como tentar ser honesto. “Em uma palavra, ser honesto”, resumiu.

Biografia de Haroldo Joseph Rham

Pe. Haroldo Rahm nasceu em 22 de fevereiro de 1919, nos Estados Unidos. Ele chegou ao Brasil em 1965 e naturalizou-se brasileiro em 1986. Por aqui, fundou diversas obras, como paróquias, pastorais, movimentos, entre outras, aliando-se a outros religiosos. Tudo com o objetivo de aliviar o sofrimento das pessoas marginalizadas, principalmente dependentes químicos.

Por isso, ele era conhecido carinhosamente como o profeta do Amor exigente. Tanto é que Em 1978, fundou a entidade filantrópica “Associação Promocional Oração e Trabalho”, que em 2009 foi rebatizada com o nome de “Instituição Padre Haroldo Rahm”. Seguindo a mesma linha de trabalho, ele iniciou o movimento “Amor-Exigente”, em 1984, inspirado no livro “Tough Love” e que atualmente está presente em todo o Brasil e outros países.

Já o instituto que leva o seu nome desenvolve ação social em quatro eixos de trabalho, todos direcionados para pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social. Além disso, a entidade oferece quinze serviços diferentes, possui dez endereços e atende cerca de 2 mil pessoas por mês. Nestes anos todos, o serviço ajudou 12 mil pacientes e é referência nacional.

Por Sérgio Botêlho Júnior

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