Quem acompanha a política nacional vê claramente o nítido impedimento que há na ala bolsonarista em relação ao aparecimento de nomes que possam despontar com o do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Prova disso são as constantes situações constrangedoras que já ocorreram no palanque que defende “Deus, pátria, família e liberdade”. Quem não lembra do corte recebido pelo empresário Luciano Hang durante um ato de 7 de setembro em Brasília ou do Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, forte nome para disputar o Palácio do Planalto, tendo que afirmar que seu candidato em 2026 é o ex-presidente que, até o presente momento, está inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)?
A unidade discursiva e o respeito a hierarquia fazem parte do militarismo, que exerce influência sobre o bolsonarismo que busca reestabelecer os direitos políticos de sua maior liderança. Aliás, foi graças a influência política do ex-presidente Bolsonaro que a direita saiu fortalecida das eleições municipais de 2024, um feito reconhecido pelo atual presidente do PL, Valdemar da Costa Neto. Mas nos caminhos da direita, parafraseando Carlos Drummond de Andrade, há uma pedra: o ex-coach Pablo Marçal (PRTB).
Depois de ter obtido 28,1% das intenções de voto para a Prefeitura de São Paulo, precisando somente de cerca de 1% a mais para disputar o segundo turno contra o prefeito Ricardo Nunes (PRTB), candidato a reeleição apoiado por Tarcísio e Bolsonaro, Marçal demonstrou uma força capaz de promover rachaduras preocupantes no grupo liderado pelo atual presidente de honra do PL. Sua ida ao segundo turno no lugar de Guilherme Boulos (PSOL) preocuparia a esquerda e, mais ainda a direita que, obrigatoriamente, sairia dividida na capital mais importante do país.
Cabe destacar que durante a campanha eleitoral, Marçal adotou um estilo comunicacional bem diferente dos seus adversários. Evitou o uso de paletó, algo que o povão dificilmente usa; utilizou-se de um boné com o M que, em meio aos debates e como uma de suas técnicas de distração, ensinou o eleitorado a fazer. Ele também expôs casos negativos de seus adversários, deu a cara para bater, levou uma cadeirada e converteu toda atenção recebida para as suas redes sociais, onde disseminou suas ideias e conquistou não somente mais atenção, como também algo fundamental: votos, 1.719.214 para ser mais preciso.
Fora do segundo turno por uma curta diferença para Guilherme Boulos, que obteve 1.776.127 votos, Marçal procura se manter vivo no jogo da política, tanto é que organizou uma sabatina para os candidatos à prefeitura da capital paulista, ato que somente foi acatado pelo candidato do PSOL. Além disso, ele não esconde a possibilidade de sair candidato ao Palácio do Planalto, disputa que ele teme somente um nome: Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em setembro deste ano, ele afirmou que só seria candidato se o presidente morrer, devido ao prestígio e conhecimento que o petista tem junto à população brasileira.
Também é importante destacar ao longo de 2024, sobretudo do primeiro turno das eleições municipais, Marçal acenou ao bolsonarismo e não obteve sucesso. No ato da Avenida Paulista, por exemplo, ele não conseguiu subir no trio elétrico em que estavam os principais nomes da direita. Por outro lado, ele recebeu acenos de bolsonaristas importantes, a exemplo do deputado Nicolas Ferreira e de parte do clã do ex-presidente, embora nada disso tenha resultado em algo. Sendo assim e considerando a força de convencimento do ex-coach, no caminho do Gabinete Presidencial do Palácio Planalto, o Bolsonarismo tem mais uma grande pedra para se preocupar, enquanto a esquerda precisa urgentemente realinhar o seu discurso e fortalecer o aparecimento de novas lideranças populares se não quiser assistir mais um fracasso eleitoral.
Como bem pontuou Rodolfo Borges em uma análise publicada em O Antagonista: “Um homem que consegue convencer pessoas a se expor a riscos desnecessários no cume de montanhas não pode ser desprezado, nem subestimado numa campanha eleitoral”.
Foto: Pros/Divulgação
Por: Thiago Farias