Com o peito estufado e um semblante orgulhoso de sua história de superação, Rivalberto Brito, o piauiense de 42 anos relembra o sofrimento que passou há pouco menos de 10 anos. Ele, assim como muitos jovens estáveis ou não, conheceu o crack no auge dos seus 24 anos e bastou somente o primeiro contato, para que a sua vida tranquila se transformasse num inferno de lágrimas, abandono e solidão.
“Na época, eu era sargento das Forças Armadas e proprietário da Rivaldo Motos, ou seja, tinha uma vida espiritual e financeira equilibrada. Mas em uma turma de amigos me foi apresentado o crack e bastou somente aquele primeiro contato para me tornar um viciado e não parar mais de usar”, relembra Rivalberto, que naquele período também era um pai de família, com uma esposa e uma filha com pouco mais de 10 anos.
O vício imediato de Rivalberto Brito pode parecer estranho devido à rapidez em que se deu. Entretanto, de acordo com o Portal Mundo Sem Drogas, as pessoas que fazem uso do crack não comem e nem dormem adequadamente. “A droga pode fazer as pessoas sentirem-se paranoicas, zangadas, hostis e ansiosas – mesmo quando não estão sob o efeito do barato”, explana.
Esses efeitos fizeram com que a residência da família do piauiense se tornasse um verdadeiro inferno, que simplesmente levava a mãe de Rivalberto às lágrimas. E como se não bastasse, o vício o afastou de todas as pessoas que o amavam, a exemplo da sua ex-esposa, filha, familiares e amigos. Um desastre total.
“Quando eu perdi tudo e não tinha mais nada, só fazia o uso da droga. Então me interessei em me livrar daquele problema que há muito me fazia sofrer. Eu fiquei sozinho mais Deus, porque todas as pessoas se afastaram de mim, até que eu conheci a Fazenda da Esperança, através do Grupo Esperança Viva de Picos, no Piauí, onde me enviaram para a Fazenda Santa Faustina, em Campo Maior, também no Piauí, em 2009”, relembra Brito.
Dentro da Fazenda da Esperança, Rivalberto não pestanejou e lutou com bravura durante o seu ano de recuperação, marcado pelo trabalho, força de vontade e, sobretudo, de fé. Esses atributos foram suficientes para que em seu nono mês de recuperação, ele sentir em seu coração e em sua alma o chamamento para o voluntariado voltado a todas as pessoas que tiveram suas vidas desgraçadas pelas drogas.
Ao decidir largar tudo para ser um Missionário da Esperança, Rivalberto foi encaminhado para diversas Fazendas da Esperança espalhadas pelo Brasil. Ele passou pelas sedes de Coroatá e Caxias – MA; Porto Nacional – TO; Guaratinguetá – SP; São Gabriel das Cachoeiras – AM e Lagarto – SE, onde permanece como missionário atualmente.
“Mas o que mais me marcou foi à experiência vivida em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, uma área indígena, onde eu pude ver que ser pobre não é defeito. Porque lá há uma pobreza muito grande, mas um povo alegre que acredita em uma vida melhor.
Além disso, foi lá que eu aprendi a fazer o terço e tantos e tantos outros artesanatos que os índios me ensinaram, como também foi onde eu descobri a minha vocação de dar continuidade, de renovar o meu sim para Deus, e de ajudar a cada um desses jovens que lutam para se livrarem do inferno das drogas.
“Então eu, como tantos outros missionários da esperança, tenho esse desejo de ajudar a cada jovem que bate a nossa porta”, destaca Brito no auge dos seus 42 anos.
A descoberta do segredo da vida diante desses nove anos de trabalho missionário e de constante aprendizado, Rivalberto Brito confidenciou a Revista Tribuna Municipal que hoje a sua maior alegria é quando um jovem acolhido pela Fazenda da Esperança encontra o segredo da vida. “Minha alegria de renovar o meu sim a Deus é quando um jovem conclui o seu ano de recuperação e descobre o segredo da vida, que nada mais é do que ajudar o próximo, as pessoas mais fracas e fragilizadas. E todos os jovens que passam pela fazenda aprendesse o dom do amor.
Aprender a amar as pessoas que estão fragilizadas e aquelas que, principalmente, sofrem no inferno da droga”, argumenta o missionário da esperança. Mas como dizem que Deus escreve certo por linhas tortas, atualmente Rivalberto também pode gozar mais uma alegria, o retorno daqueles que sempre o amaram, a exemplo da sua mãe e da sua filha que hoje tem 18 anos de idade. “Minha filhona vive dizendo que tem muito orgulho de mim. Ela me chama de ‘meu herói’”, comemora orgulhosamente.
A prova viva de que toda vida tem esperança
O trabalho missionário de Rivalberto resume-se a levar a mensagem de que toda vida tem esperança, e ele mais do que ninguém está capacitado para tal missão, não somente porque participou de um curso de formação oferecido pela Fazenda da Esperança, mas também porque já esteve no inferno das drogas, o que o habilita a não somente trabalhar na recuperação de vidas, como também ser um exemplo a ser seguido por aqueles acolhidos que desejam uma vida melhor, repleta de amor e fraternidade.
“Vale a pena lutar pela vida! Eu já não tinha esperança de viver, já não gostava mais de mim mesmo. Mas, conhecendo a Fazenda da Esperança, posso confirmar verdadeiramente que toda vida tem esperança. E o recado que eu posso deixar para mulheres e homens é: não experimente o crack, pois basta uma vez para você se tornar um dependente e levar uma confusão da rua para dentro de sua casa, que logo se transforma num inferno. […] Hoje, graças a Deus, liberto já das drogas há nove anos, experimento uma alegria e uma plenitude na vida, pois sou muito feliz e realizado em poder ajudar pessoas que sofreram como eu sofri. Definitivamente, toda vida tem esperança”, encerra.
Por Sérgio Botelho Junior