Pessoas em situação de rua e vulnerabilidade social sofrem dia após dia com a fome, o desprezo, sem um teto para se abrigarem, sem emprego, além das doenças e os riscos que as ruas oferecem, como, por exemplo, as drogas. Mas ainda há esperança para aqueles que querem mudar de vida, pois contam com a ajuda de voluntários e um deles é o Frei Rogério Soares, da Paróquia Sagrado Coração de Jesus e Nossa Senhora das Mercês, que criou o Programa Coração Aberto para atender e encaminhar essas pessoas conforme as suas necessidades.
E para entender um pouco mais, o Frei Rogério concedeu uma entrevista exclusiva à ImagineAcredite para falar sobre os cinco eixos que norteiam o projeto. O primeiro eixo é a escuta e encaminhamentos de forma profissional quando a pessoa procura a Paróquia em busca de uma resposta e será ouvida por um técnico que irá realizar seu cadastro. “Vê as demandas e aquilo que a gente pode intermediar para ela, seja junto aos órgãos públicos, a iniciativa privada, parceiros ou algum auxílio emergencial que a Paróquia pode fazer (uma cesta básica, uma passagem, dependendo do caso). É comum as pessoas baterem em nossa porta porque confiam na Paróquia. As pessoas por falta de instrução, nem sabem bem o que estão querendo. A gente precisa mostrar que nem sempre as vontades delas é o que realmente elas necessitam”, esclarece o Frei.
E nem sempre as vontades e as necessidades são iguais sendo preciso distinguir para orientar a pessoa como resolver o problema da vida dela e não o problema daquele instante. “Às vezes a vontade é o dinheiro para comer naquele dia, só que por estar em situação de rua a necessidade dela é ir para uma vaga de acolhimento do governo. Às vezes ela vem em busca de uma cesta básica, só que ela não tem o fogão pra cozinhar, por que vai levar uma cesta básica? Então a gente orienta a clarear pela necessidade dela”, cita como exemplos Frei Rogério.
O segundo eixo é a formação e empreendedorismo que engloba as “Petas do Frei” e todas as quintas-feiras são realizadas as reuniões de Formação Empreendedora, instrução e de acolhida dos novos vendedores. “As “Petas do Frei” é os biscoitos de polvilho em que a gente empacota aqui e passa para todos com o valor de R$ 2,50 e eles vendem a R$ 5,00 e é por consignação. Ele pode chegar aqui sem dinheiro nenhum, sai pra vender, vendeu, presta conta do que vendeu e fica com o lucro. Então é muito simples, é um dinheiro que só precisa do esforço dele”, pontua. E aqueles que preservarem o objetivo serão Microempreendedores Individual, pagando seu INSS e sendo formalizado.
O terceiro eixo configura a construção de parcerias tanto com o governo, como a iniciativa privada. “Que a gente tenha acesso aos serviços de forma um pouco mais facilitada, com uma ligação. Nós temos uma pessoa que precisa ser atendida no CAPS, nós temos uma pessoa que precisa ser atendida pela SESI. Ligar na central de vagas, nós temos uma pessoa em situação de rua, precisa de uma vaga para acolhimento. Então essa parceria com o governo a gente quer estabelecer, já temos algumas parcerias, mas formalizar parcerias com o CREAS, com o CRAS”, destaca.
Já o quarto eixo visa desenvolver pesquisas e ajudar o governo com políticas públicas eficazes e o quinto eixo é a espiritualidade no sentido amplo, como, por exemplo, o cuidado com a saúde e com o bem-estar. “Uma abertura transcendência, uma relação com Deus, uma relação consigo mesma de forma mais harmônica, para não ficar aí sem uma referência de transcendência de Deus na sua vida, no sentido da vida, vamos trabalhar o sentindo da vida”, descreve o Frei.
O sim para a mudança de vida
O programa ainda conta com duas filosofias. A primeira é que a pessoa oferece uma contrapartida para receber a ajuda e a segunda é que a pessoa precisa dar o passo. “Um casal chegou aqui, estava em situação de rua, precisava voltar pra sua terra e eu disse pra eles: “olha, a gente pode conseguir as passagens, mas eu quero que vocês consigam uma passagem. Vendam as petas e eu completo o restante. Então a contrapartida de vocês vai ser fazer o dinheiro de uma passagem”. E eles trabalharam. Então essa contrapartida seja qual for tem que ter, essa é uma filosofia”, lembra o Frei.
Questionado se a igreja está sendo um braço do governo distrital, o Frei declara que a sociedade também é Estado e devemos fazer a nossa parte. “Então eu faço a minha parte, não estou ocupando o lugar do governo. Sou a parte da sociedade civil, terceiro setor, mas eu sou Estado. Então o Estado está atendendo essa pessoa. Agora o governo também tem a sua responsabilidade de fazer o social, de atender, mais responsabilidade ainda evidentemente, mas isso não exime a minha responsabilidade em fazer o social”, finaliza o Frei. Vale ressaltar que o programa está em funcionamento há duas semanas e foram realizados 40 cadastros, sendo que a metade já conseguiu encaminhamento.
Ascom ImagineAcredite