A manhã desta segunda-feira, 12, foi de muita festa para a Fazenda da Esperança, que foi homenageada pelo Senado Federal, em sessão especial, realizada no plenário da casa. A ação contou com a participação de autoridades políticas, de classe e também de jovens acolhidos pela Fazenda da Esperança e pela Organização Não-Governamental Salve a Si.
A solenidade, que durou pouco mais de uma hora, foi presidida pelo senador Siqueira Campos (DEM/TO) que em seu breve discurso se mostrou visivelmente honrado em participar da solenidade alusiva a obra iniciada em Guaratinguetá-SP.
“Esse é um dos mais belos projetos sociais de amparo e acolhimento da juventude, dos desvalidos que não têm condições de viver e de encaminhar seus filhos. Ah, quantos rapazes são acolhidos e lá tomam o rumo certo… Frei Hans, com a ajuda de Deus, o senhor criou esta fabulosa instituição que tem um belo nome: Fazenda da Esperança, porque ninguém pode deixar de ter esperança e lá eles aprendem isso”, disse o senador.
Já o Frei Hans Stapel Ofm, fundador da Fazenda da Esperança, lembrou das inspirações e desafios inerentes a construção da obra, para destacar que o amor e a dedicação ao próximo são capazes de salvar vidas. “Estou convicto que estamos vivendo as dificuldades das drogas, da violência e da desigualdade social, porque nos afastamos do evangelho”, observou.
Neste sentido, o religioso lembrou que a fazenda trabalha com a vivência da espiritualidade e que a obra cresceu por vontade divina, graças à presença de Jesus em meio. Além disso, ele destacou que a obra somente é o que é, porque busca não apenas recuperar o dependente químico do seu vício, mas sim formar homens novos.
“Gostaria de tirar todos os jovens das cracolândias espalhadas pelo país. Precisamos tirá-los da lá. Gostaria de tirar os jovens das prisões. Nossas prisões cortam o meu coração, porque eu não aguento ir a prisão e ver eles sendo tratados como monstros e depois acontecem as coisas que chocam o mundo inteiro. Se queremos recuperar alguém que é carente de amor, só amando. E quando amamos e ensinamos a amar, aqui nasce uma vida nova. Nós queremos que cada jovem que entra na nossa fazenda seja um homem novo”, pontuou.
Atualmente, a Fazenda da Esperança é considerada a maior comunidade terapêutica da América Latina, uma vez que possui 141 comunidades terapêuticas em todo o mundo e mais 50 em processo de instalação. Contudo, abrir uma nova CT não tem sido fácil, devido à burocracia imposta por Estados e Municípios, que buscam intervir no tratamento terapêutico da fazenda por meio da sua legislação. Por isso, o frei encerrou o seu discurso fazendo o seguinte apelo: “Deixem nós ser como nós somos! É possível com amor mudar a vida de muitas pessoas e mudar até a nossa pátria”.
A Fazenda que transforma vidas
Durante a solenidade, diversos testemunhos de vidas transformadas pela Fazenda da Esperança foram relatados. Tanto é que muitos do que adentram a obra dificilmente se desvinculam dela depois da sua recuperação. Um exemplo disso é o do Adalberto Calmon, atual presidente da Confederação Nacional das Comunidades Terapêuticas.
Ele era um grande advogado no estado de São Paulo, possuía uma boa vida, uma bela família, mas foi vítima da depressão e até pensou em cometer suicídio. Foi quando ele se lembrou da Fazenda da Esperança e resolveu passar uma experiência de 12 meses que transformou a sua vida. “Eu nunca me aproximei tanto de Deus como na Fazenda da Esperança. É coisa de Deus! […] Por isso, não me desliguei da instituição e disse ao frei: estou a sua disposição. Hoje sou um missionário e moro na fazenda com minha esposa, porque eu vivi uma palavra que me marcou muito: ‘Dar aquilo que te custa e não o que te sobras’”, relembrou Calmon.
Além dele, a obra – ainda um pouco antes do seu nascimento – contribuiu para a promoção da vida da família de um dos seus fundadores, o Nelson Giovanelli. Uma vez que foi graças a um conselho do frei Hans que ele conseguiu livrar o seu pai do alcoolismo, melhorar a vida da sua família e se motivar com a fundação de uma comunidade como a Fazenda da Esperança. “Não imaginávamos que com essa experiência do cafezinho, essa obra possuísse praça em 23 países com 140 comunidades. Eu tenho uma gratidão muito grande ao frei Hans, que um dia decidiu deixar a sua pátria para vir ao Brasil trazendo essa espiritualidade que salvou a minha vida, do meu pai, da minha mãe e de todos vocês que estão aqui”, comemorou Giovanelli.
A Fazenda da Esperança também tem se destacado na quebra de paradigmas sociais estabelecidos no seio popular por falta de conhecimentos ou de preconceitos referentes a comunidades terapêuticas e dependentes químicos. O depoimento de Fátima Roriz, jornalista responsável por fundar três fazendas no Tocantins e que decidiu cuidar dos dependentes químicos depois de ser alvo de um sequestro, é a prova viva disso. Uma vez que nem ela mesma acreditava que o amor era capaz de salvar vidas.
“É muito bom descobrir que nós seguimos um deus vivo que faz milagres e que está pronto para atender a todos os pedidos de um coração bom, simples e de uma vida leve. A Fazenda da Esperança, com toda essa grandeza de 23 países, tem escola, tem casas de aidéticos em fase terminal, tem creches, é uma grande obra! Mas muita gente, eu como jornalista, na época, se perguntava como é que se recupera sem remédio? Como é que se recupera sem psiquiatra? Recupera no amor. E o meu ceticismo a cada dia mostrava que bastava ser testemunho, e nós éramos três mulheres, todas mães de família, empresárias, e nunca em 20 anos, nós fomos assediadas ou tivemos qualquer problema com um dos meninos ou meninas, porque – reforçando São João da Cruz – ‘Onde não tem amor, coloque amor e ele vendo essa vivência do amor, ele vai te seguir’”, disse Roriz que há 20 anos integra a Família da Esperança.
Outra que também vivenciou essa quebra de paradigmas foi o padre Luiz de Menezes, Presidente Geral da Fazenda da Esperança. Uma vez que, oriundo do interior de Sergipe, ele iniciou os seus passos na comunidade de Guaratinguetá, onde passou a ter outra visão daquilo que era dependência química e também comunidade terapêutica. Uma vez que ele procurava o sentido da vida com suas perguntas.
“Confesso que cheguei lá com medo é muito preconceito, mas a gente vai vendo como Deus vai agindo. Porque a acolhida dos jovens e abertura ao diálogo tirou esse medo e frutificou numa bela convivência familiar. Isso mudou a minha vida, porque em determinado momento um dos jovens chegou para conversar e contou sua história de sofrimento, de família fragilizada, e quando ele terminou de contar sua história me veio dois sentimentos: um veio a gratidão a Deus, porque pensei que ele me preservou com uma família que me deu tudo; e o outro foi: se eu tivesse nascido nas circunstâncias que ele nasceu, talvez eu teria feito igual ou pior que ele, e foi daí que veio o desejo de gastar a minha vida ajudando outros a encontrar esse amor de Deus”, lembrou o padre.
Uma obra fundamental para o Brasil
Com mais de 70 comunidades instaladas somente no Brasil, sendo que em breve contemplará todo o território nacional ao inaugurar mais uma unidade em Rondônia, a Fazenda da Esperança figura como uma das principais comunidades terapêuticas para o Brasil. Tanto é que o Secretário Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas (SENAPRED), do Ministério da Cidadania, Dr. Quirino Cordeiro Jr., afirmou que a obra não pode ficar de fora dos novos editais de financiamento do governo federal.
“Hoje temos 11 mil vagas dispostas em 496 comunidades terapêuticas por todo o país. Destas 496, 71 são em comunidades da Fazenda da Esperança que nós temos um orgulho muito grande de sermos parceiros. São 1.347 vagas financiadas somente na Fazenda da Esperança.
Eu, por exemplo, tive a grata oportunidade de visitar uma fazenda em Guaratinguetá e no Amazonas, e pude presenciar a alta qualidade do tratamento, e todo o carinho e a dedicação que é ofertada para os acolhidos dessas entidades. Agora nos aproximamos da publicação de um novo edital de financiamento de novas vagas e gostaríamos de contar com a Fazenda da Esperança nesse processo”, discursou o secretário.
Por Sérgio Botêlho Júnior