Com mais de 30 anos de atuação no tratamento de dependentes químicos, a Fazenda da Esperança figura como a maior comunidade terapêutica da América Latina. Uma vez que está presente em mais de 23 países do globo terrestre. Tudo isso se deve ao empenho do frade franciscano Hans Stapel e do leigo Nelson Giovanelli Rosendo dos Santos, que fundaram a obra em 1979, em Guaratinguetá-SP, e que desde então não tem parado de crescer em todos os sentidos.
Por anos e anos, Stapel e Giovanelli estiveram à frente de toda a obra, que atua na linha de frente junto àqueles que mais sofrem com o flagelo das drogas. Contudo, assim como qualquer outro ser, eles são mortais, mas não poderiam deixar a obra morrer ou se desvirtuar da sua essência. Pensando nisso, há três anos eles transmitiram o comando da Fazenda da Esperança para a nova geração e juntos com Iraci Leite e Lucilene Rosendo, fundadoras das Fazendas da Esperança Feminina, que largaram tudo para viver pela obra, fundaram a Escola Missionária Internacional da Esperança.
Segundo o frade franciscano, a EMI tem o objetivo de transmitir o Carisma da Esperança, que foi reconhecido pelo Vaticano, àqueles que integram a obra social, além de fazer com que mais dependentes químicos que buscam ajuda possam conhecer e recorrer à Fazenda da Esperança, para se livrarem das drogas. “Esses dois objetivos nos levaram a começar essa experiência. E esses objetivos foram encontrados, porque encontramos mais vocações e as fazendas receberam mais jovens”, completou o religioso.
A experiência a que o frei Hans Stapel se refere é o modus operandi da EMI, que busca trabalhar junto àqueles que conseguiram se livrar da dependência dentro da Fazenda da Esperança e que estão a procura da sua vocação. É com eles que há três anos, o frei e os leigos consagrados percorrem alguns continentes – como a Europa, a Terra Santa (Israel) e a América Latina – compartilhando experiências, vivenciando a palavra, conhecendo na prática a Fazenda e o seu Carisma, bem como partilhando momentos de alegria, fé e de muita doação ao próximo.
A cada edição, a viagem missionária conta com 50 ex-acolhidos e voluntários que são imersos em comunidades terapêuticas, igrejas e capelas, praças públicas, emissoras de rádio, presídios, asilos, hospitais, e outros locais onde o olho da sociedade ver, mas se recusa a enxergar e tomar alguma providência. Ao final, com o sentimento de muita gratidão, muitos decidem se voluntariar para fazer crescer a Fazenda da Esperança, como explica Nelson Giovanelli.
“É como o evangelho diz: “O Reino dos Céus é semelhante ao homem que encontrou um tesouro e que vendeu tudo o que tinha para possuir um terreno onde está aquele tesouro ou como a mulher que tendo encontrado a dracma perdida, reúne todas as suas amigas para comunicar que encontrou”. Então é isso que acontece com todos aqueles que participam e aceitam esse convite. É o sentimento de retribuir gratuitamente aquilo que de graça foi lhe dado”, compara.
Para se ter uma ideia, de acordo com números do Frei Hans, na primeira viagem missionária, realizada na Europa, dos 50 participantes, 20 deles escolheram viver pela obra. E esse número foi crescendo nas viagens seguintes, o que foi comemorado pelo religioso, haja vista que a Fazenda da Esperança, por não parar de crescer, necessita de pessoas vocacionadas para cuidar do próximo. “A cada ano se abrem mais fazendas no mundo e sempre as fazendas são doadas e nós nos preparamos para depois abrir. Mas graças a Deus, ele está dando essas vocações e com as chances que nós damos para cada um em se dedicar as fazendas, as vocações crescem, se santificam e por isso as coisas estão nesse sentido caminhando muito bem”, comemora o religioso.
Uma escola de momentos marcantes
As viagens missionárias são realizadas uma vez por ano, desde 2017. Elas têm a duração de 30 dias e como já mencionamos, ela percorre os lugares onde o olho social, sobretudo, dos estados deveria olhar e focar com mais ênfase. Por isso, tudo é realizado com muita simplicidade, já que o maior exemplo de simplicidade e altruísmo fora dado por Jesus Cristo em sua passagem pela Terra. Contudo, para o ex-acolhidos é justamente na simplicidade e na dificuldade que eles lutam para fazer Jesus em meio.
Tudo começa pelo começo, onde os convidados têm que buscar recursos para custearem toda a sua viagem, como ocorreu nas edições 2019, 2018 e 2017. Segundo a Iraci Leite, integrante do Conselho da Família da Esperança e fundadora das fazendas femininas, todo esse processo é marcado por muito amor e dedicação dos ex-acolhidos, a partir do momento em que a proposta de viajar com a EMI é lançada para cada um dos ex e voluntários.
“Fazemos os cálculos das despesas gerais e cada um deve providenciar uma comunhão no valor da cota das despesas gerais e também para adquirir suas passagens. É muito lindo como cada um luta para conseguir. Alguns vendem algo de próprio, outros fazem rifas, vendem produtos da Fazenda ou pedem ajuda a quem lhes pode dar”, observa e completa: “Formamos um grupo de WhatsApp e ali todos nós nos preparamos. Os fundadores dão temas e tarefas e contamos nossas experiências. Quando nos encontramos, já somos logo uma família porque a palavra vivida e comunicada já criou esta família”.
Para Nelson Giovanelli, essa etapa é uma das mais marcantes no processo de formação missionária. “Isso foi um exemplo marcante de maturidade, sustentabilidade, e de responsabilidade em relação a não ser um peso para ninguém”, observa o leigo consagrado, destacando que a generosidade e a hospitalidade dos povos também têm propiciado momentos ímpares.
“A experiência mais marcante é difícil dizer, mas poderia citar que uma delas foi à hospitalidade e a generosidade dos povos que nos acolhia, inclusive facilitando a hospedagem, em alguns lugares não cobrando nada, conseguindo recursos para a alimentação, teve empresário que doou cinco mil dólares para o pagamento do ônibus e isso é muito bonito de ver”, destaca.
O desafio de descobrir vocações
Além desses exemplos, os relatórios de viagens também apresentam outros momentos marcantes e que para citá-los em sua totalidade seria necessário a escritura de um livro. Entretanto, nesta última viagem missionária de 2019, podemos citar algumas passagens como: a formação de Jesus em meio e a alegria dos viajantes diante de uma casa onde não cabiam todos os 50 participantes; a vivência da palavra e a troca de experiências junto aos alunos do ensino médio do Colégio Marista, no Chile; a troca de vivências com os detentos do presídio de Curepto; a construção de Jesus em meio nas diversas CTs visitadas pelo grupo de aspirantes a Missionários da Esperança; e a inserção de testemunhos em emissoras de rádio e televisão voltadas exclusivamente ao esporte.
Contudo, o fato mais impactante ocorreu no dia 06 de outubro deste ano, na Praça Dean Funes, em Córdoba, na Argentina. Na ocasião, a cidade celebrava a abertura do mês missionário, mas quando o grupo de missionários desembarcou e se apresentou, toda a multidão voltou os seus olhos e atenção para ele. “Ver a cidade envolvida com todos foi um marco para nós em toda essa escola. [Então] Levamos nosso carisma caminhando pelas ruas e assim a catedral da cidade ficou muito cheia em busca de conhecer mais essa esperança que é o nosso carisma”, diz o relatório de viagens.
Ao que se pode notar nos relatórios, tudo foi muito significativo e os resultados apareceram no final da viagem, pois dos 50 participantes, 11 escolheram ser missionários no Brasil, seis no Chile, cinco na Argentina, três no Paraguai, dois no México e dois no Uruguai. Diante desse resultado, a Iraci Leite comemorou afirmando que “É sempre um desafio descobrir vocações, mas Deus não deixa de chamar em tempo nenhum. Neste sentido, a EMI aparece como uma bonita ocasião”.
Já o frei Hans informou que a Escola Missionária Internacional está analisando a possibilidade de percorrer a África, a América Central ou o Amazonas na edição 2020. “É a alegria de deixar Deus entrar na própria história e se doar para os outros. Então estamos felizes com essa experiência e decididos a continuar”, encerra frade franciscano.
Por Sérgio Botêlho Júnior