Eleição em São Paulo: uma corrida acirrada em meio à polarização

A polarização oriunda da última eleição presidencial ainda ressoa em todo o país, principalmente porque daqui a dois anos haverá uma nova corrida ao Palácio do Planalto. Portanto, as eleições municipais aparecem como um passo importante para garantir o sucesso eleitoral na disputa vindoura que nem começou, mas que tende a continuar polarizada entre a esquerda, liderada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e o presidente Lula, e o Partido Liberal (PL), do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Nesse contexto, a disputa pela Prefeitura de São Paulo segue correndo de forma intensa com uma batalha política que mistura conservadorismo, progressismo, debates acalorados e uma intensa disputa pela atenção dos eleitores por meio das redes sociais, que ganharam ainda mais força com a popularização da internet e de aparelhos de telefonia móvel. E é neste ambiente que o protagonismo é dividido, principalmente, segundo apesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira, 5 de setembro, entre Guilherme Boulos (PSOL), Pablo Marçal (PRTB) e o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), que busca a reeleição.

Empresário, Guilherme Boulos lidera a corrida com 23% das intenções de voto, conforme o levantamento citado. Ele representa o eleitorado progressista de São Paulo e conta com apoio do presidente Lula, além de ser conhecido por sua atuação no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Boulos também defende uma cidade mais inclusiva, com foco em políticas de moradia, urbanismo e direitos humanos. Sua base de apoio é sólida entre os bairros centrais e progressistas da capital, que valorizam suas propostas de redistribuição de recursos e combate às desigualdades sociais.

Do outro lado está o influenciador digital e coach Pablo Marçal, que aparece com 22% das intenções de voto junto com o atual prefeito Ricardo Nunes. Por onde passa, o influenciador afirma que será o próximo prefeito da capital paulista, uma fala que tem ganhado força, principalmente pelo bom desempenho comunicacional do mesmo aliado ao discurso de renovação com promessas de soluções práticas e imediatas para os problemas de São Paulo. Além disso, grande parte do seu eleitorado, em eleições passadas, se alinhava ao bolsonarismo tradicional, enquanto sua retórica direta, focada em resultados rápidos e gestão eficiente, tem sido bem recebida por aqueles que buscam uma alternativa à política tradicional.

Empatado com Marçal está o prefeito Ricardo Nunes, que assumiu a prefeitura após a morte de Bruno Covas. Ele entrou na disputa em 2024 com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, uma figura influente entre o eleitorado de direita. No entanto, mesmo com esse suporte, Nunes tem perdido força nas pesquisas e o principal motivo é a migração de eleitores conservadores para Pablo Marçal, que, com um discurso mais alinhado ao empreendedorismo, tem capturado o público que antes o apoiava.

Além disso, Nunes enfrenta críticas sobre sua gestão, principalmente em áreas como transporte e segurança pública. Apesar de tentar se posicionar como o candidato da continuidade, ele parece não ter conseguido convencer o eleitorado de que merece um segundo mandato. Seu apoio entre os conservadores vem diminuindo, enquanto ele tenta se equilibrar entre a fidelidade ao bolsonarismo e as demandas da cidade.

Atrás de toda essa turma, está a deputada federal Tabata Amaral (PSB) com apenas 9% das intenções de voto. Eleita deputada com mais de 330 mil votos, ela tem acenado para os eleitores de esquerda e direita, prometendo cuidar de quem precisa e recompensar quem batalha. Porém, mesmo com uma rede social interessante e um bom desempenho nos debates, ela, José Luiz Datena e os outros quatro candidatos com menos de 10% de intenções de voto não demonstram qualquer possibilidade de chegarem ao segundo turno.


Debates televisivos: o palco da tensão

Os debates televisivos entre os candidatos têm sido um reflexo da polarização da campanha. Um dos momentos mais tensos ocorreu entre Pablo Marçal e José Luiz Datena (PSDB), que, embora esteja atrás nas pesquisas com 7%, trouxe consigo sua personalidade forte e uma visão de segurança pública que o acompanhou ao longo de sua carreira na televisão. Em um desses debates, a troca de farpas entre Marçal e Datena quase resultou em agressões físicas, com ambos os candidatos se provocando de forma intensa.

Essa situação rapidamente ganhou as redes sociais, gerando uma enxurrada de memes e vídeos que viralizaram entre os eleitores mais jovens. Os eleitores de Datena esperam que o apresentador consiga reverter a desvantagem, mas seu foco em segurança pública parece não ser suficiente para ampliar sua base de apoio. É a primeira vez que o jornalista vira candidato após quatro desistências em eleições anteriores.

Apoio presidencial

Por outro lado, Guilherme Boulos, que tem liderado as pesquisas e, ao mesmo tempo, sido muito atacado nos debates, tem feito sua campanha com o apoio do presidente Lula. Mas um comício marcado pela execução do hino nacional em linguagem neutra colocou a campanha no centro de uma polêmica que o afastou de eleitores e potenciais eleitores, mesmo assim, com apenas 1% a mais das intenções, ele caminha para ser o representante da esquerda no segundo turno.

No campo da direita, o embate para o segundo turno está entre Pablo Marçal e Ricardo Nunes. O primeiro não conta com o apoio do Planalto e nem do ex-presidente Jair Bolsonaro, tanto que ele foi impedido de subir no trio em que o último estava em um ato pela liberdade na Avenida Paulista, no dia 7 de setembro. Por isso, Marçal tem dito que será um prefeito independente e que ligará para o presidente que estiver de plantão em Brasília para levar investimentos para São Paulo.

Nunes, por outro lado, até tem o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro e do governador de São Paulo e possível presidenciável, Tarcísio de Freitas. Contudo, como mencionado anteriormente, essa rede de apoio ainda parece não ser suficiente diante da força e do poder de convencimento do candidato do PRTB.

Desafios para o futuro Prefeito

Sendo assim, o fato é que, independente de quem vença as eleições, os desafios para o futuro prefeito de São Paulo serão imensos. A cidade enfrenta problemas crônicos de mobilidade urbana, com um trânsito caótico e um transporte público que demanda investimentos e modernização. Além disso, a segurança pública segue como uma das principais preocupações dos eleitores, com altos índices de criminalidade, principalmente em regiões periféricas.

Outros desafios incluem a questão da moradia, agravada pela desigualdade social, e o aumento da população em situação de rua, que requer políticas públicas eficazes. A saúde pública também demanda atenção, principalmente após o impacto da pandemia, e o desenvolvimento sustentável da cidade estará no centro das discussões. O novo prefeito precisará unir a cidade, que hoje se encontra fragmentada, e enfrentar questões complexas com um olhar estratégico e inclusivo.

E 2026?

A disputa presidencial de 2026 dependerá muito do ex-presidente Jair Bolsonaro, que está inelegível até 2030. Contudo, uma derrota do seu candidato já em 2024 em São Paulo sinalizará um enfraquecimento do bolsonarismo e fortalecerá a esquerda, que está no comando do país, além de potencializar uma eventual candidatura de Marçal como substituto da direita ou extrema direita na corrida presidencial.

ASCOM IMAGINE ACREDITE

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