No último domingo, 27 de outubro, horas antes do término do segundo turno das eleições municipais de 2024, o Brasil foi surpreendido com a declaração do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (PL), acompanhado do prefeito e candidato a reeleição para a prefeitura da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), de que o PCC (Primeiro Comando da Capital) havia orientado voto em Guilherme Boulos (PSOL).
Segundo o governador Tarcísio, que não apresentou provas e nem se aprofundou sobre o assunto, foram interceptadas conversas e orientações emanadas de presídios que orientavam determinadas pessoas a votarem em determinados candidatos neste segundo turno, sendo Guilherme Boulos o indicado para a Prefeitura de São Paulo. “A gente vai apurar, vai esclarecer, já identificamos as pessoas e vamos agir com a firmeza necessária, sem intansigir com a ordem”, declarou o governador.
A fala do governador foi criticada pelo candidato psolista, que viu a ação como mais uma medida para viabilizar a vitória eleitoral do seu adversário; bem como pelo ministro da AGU, Jorge Messias, que disse que a declaração “compromete os princípios republicanos”; e pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta. “Esse comportamento não pode ser ignorado pelas autoridades. Tarcísio de forma covarde cometeu um crime e deve ser responsabilizado por isso. Guilherme Boulos é vítima do preconceito, da injustiça e do abuso de poder”, escreveu o ministro da Secom no X (antigo Twitter).
Verdadeira ou não, as declarações têm como base a intervenção do crime organizado nas eleições brasileiras que não é algo novo, mas que tem crescido ano a ano junto com a violência política. Um levantamento do Observatório da Violência Política e Eleitoral, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), registrou, entre abril e junho deste ano, 128 casos de violência contra lideranças partidárias em todo o país. O número é mais que o dobro do trimestre anterior e 24% maior em comparação ao mesmo período de 2022, quando ocorreram as eleições federais e estaduais.
Como se não bastasse a violência, um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Datafolha, que foi divulgado pelo Poder360, mostrou que ao menos 23,5 milhões de brasileiros maiores de 16 anos, portanto aptos a votar, atualmente vivem em áreas com a presença de facções criminosas ou milícias.
Além disso, nas eleições deste ano, pelo menos 12 suspeitos de ligação com o crime organizado foram eleitos em São Paulo, conforme informação divulgada pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP). De acordo com a Corte Paulista, 70 pessoas com envolvimento com o crime concorreram a cargos eletivos, sendo que 12 suspeitos de ligação foram eleitos: 10 vereadores e 02 prefeitos.
No caso do PCC, em agosto deste ano, o Chefe do Centro de Inteligência da Polícia Militar de São Paulo, coronel Pedro Luís de Souza Lopes, durante sua participação no 18º Encontro Anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirmou que a atuação da referida facção criminosa nas eleições era muito maior do que se imaginava. “Tem vários com indícios palpáveis de alguma movimentação importante do tráfico participar como financiador de campanha eleitoral”, afirmou o militar.
Um combate imperativo
Diante de todo esse cenário e de todos os males provocados por esses grupos, combater a interferência do crime organizado se tornou imperativo para o Brasil. Felizmente, há uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública que visa, entre outras coisas, o combate efetivo ao crime organizado no país sendo discutida no Palácio do Planalto.
Em entrevista ao CNN 360º, o secretário Nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo, destacou que a proposta foi idealizada pelo ministro Ricardo Lewandowski e busca elevar o combate ao crime organizado ao mesmo patamar das facções criminosas existentes no país. Por conta disso, a medida pretende estabelecer uma unidade de estratégias de combate de Norte a Sul do Brasil, sendo uma das medidas a padronização do sistema prisional.
“Não é possível que um determinado estado possa ter um sistema prisional rígido em que um líder de organização criminosa lá se encontra e não consegue contato com o exterior e o estado vizinho não faça dessa forma”, disse o secretário que também falou da importância da unificação dos bancos de dados, para facilitar as estratégias nacionais de combate a criminalidade organizada.
Ainda na entrevista concedida ao CNN 360º, Sarrubbo também destacou que a proposta está sendo discutida com os governadores, chefes de polícia e comandantes de polícias militares. “A nossa perspectiva é de fato de uma receptividade boa para PEC”, concluiu o secretário, expressando a expectativa de que o presidente Lula tome a decisão de enviar a proposta ao Congresso Nacional.
Foto: TRE-PR
Ascom Imagine Acredite