Uma obra pouco conhecida e de muita relevância social. Assim pode ser definida a Casa de Apoio Sol Nascente, uma das obras oriundas da Obra Social Nossa Senhora da Glória, que é popularmente conhecida por Fazenda da Esperança, e que neste ano completa 32 anos de atuação no Sudeste e no Nordeste.
Ela atua acolhendo jovens que sofrem com o vírus da imunodeficiência humana (HIV), responsável por causar a AIDS. Nela, são disponibilizados aos acolhidos profissionais de saúde capacitados para oferecer-lhes uma sobrevida ainda maior, principalmente, nos dias atuais com a existência de coquetéis medicamentosos.
De acordo com Nelson Giovanelli, fundador da Fazenda da Esperança, a Casa de Apoio Sol Nascente surgiu, assim como as tradicionais unidades da Fazenda da Esperança, por meio de um sinal explicito da sua necessidade no país. “Estávamos indo para Coroatá, no Maranhão, fundar a primeira fazenda fora de Guarantinguetá. Nessa ocasião, meu pai decidiu ficar em meu lugar, porque éramos poucos voluntários. Afinal de contas, 1987 foi o quinto ano da fazenda e, nesse período, a AIDS teve uma explosão no Brasil de forma inesperada de tal maneira que começaram a chegar muitos jovens debilitados, em consequência ainda da pouca condição que o país tinha para tratar essa doença”, lembra.
Uma obra movida pelo amor
E foi justamente nesta época, que o pai do Nelson, José Rosendo dos Santos, começou a acolher esses jovens, cuidando e fazendo todo o seu acompanhamento até os seus dias finais. “Ele acompanhou ao longo dos primeiros anos pós 1987 mais de 15 jovens que morreram nas mãos dele. Ele tinha a sensibilidade de saber o momento da partida de cada um e os preparavam para essa partida”, conta Giovanelli.
Nelson disse ainda que, nos primeiros anos da obra, os acolhidos dividiam o mesmo espaço dos dependentes em recuperação na Fazenda da Esperança de Guaratinguetá. “Não havia uma estrutura que pudesse acolhê-los de forma segregada. Era uma experiência muito bonita, mas que fez com que eles pensassem na ideia de uma casa com uma estrutura melhor para dar o atendimento adequado aos doentes em fase terminal”, acrescenta.
Essa ideia era alimentada justamente pelo seu pai que, após uma cirurgia, foi diagnosticado com um Câncer de Próstata, o qual – segundo os médicos – lhe daria apenas três meses de vida. Diante disso, o pai do Nelson ficou desmotivado, mas tudo – literalmente tudo – mudou quando da visita do Frei Hans Stapel Ofm, fundador da Fazenda da Esperança. “O frei perguntou o que ele pretendia fazer nos últimos meses de vida. O pai respondeu que o sonho dele era ter uma casa para o acolhimento de portadores do HIV em fase terminal. Então o frei com muita simplicidade falou: “Então vamos fazer. Enquanto o coração bate, o senhor pode amar”, e com esse impulso do frei, papai se levantou, ficou animado e em um mês montou uma casa que se conseguiu encontrar no bairro do Pedregulho, em Guaratinguetá”, rememora.
E completa: “Esse impulso que ele ganhou determinou a saúde dele, porque depois os médicos não conseguiram explicar o porquê que a doença não avançou e ele conseguiu viver mais 15 anos doando sua vida nessa nova vocação que ele havia encontrado e batizando-a então de Casa de Apoio Sol Nascente”.
Para Nelson Giovanelli, a longevidade do seu José Rosendo somente pode ser explicada pelo amor que move a obra. “Para todos nós ficou muito claro que o amor tem uma força muito poderosa que é capaz de sanar, até do ponto de vista físico, a vida de uma pessoa. O impulso que ele recebeu foi muito grande nesse sentido, o que lhe deu um grande fervor e animo, influenciando também o ponto de vista clínico”, argumenta.
Da sustentabilidade ao futuro
De acordo com o fundador da Fazenda da Esperança, devido a sua relevância social, a Casa de Apoio Sol Nascente sempre contou com o apoio dos governos estadual e federal. Tanto é que, no primeiro caso, por exemplo, a obra foi considerada uma referência e chegou a ganhar uma nova casa do então Governo Geraldo Alckmin (PSDB). Enquanto o segundo tem contribuído de forma medicamentosa e também, assim como o primeiro, economicamente.
Atualmente, a Casa de Apoio Sol Nascente conta com quatro unidades, sendo três voltadas para jovens e adultos e uma para crianças órfãs e que já nasceram com o vírus do HIV. Elas estão distribuídas entre os estados de São Paulo e Ceará. Entretanto, a obra não possui projetos para expandir as suas unidades para outros estados.
“Não corremos atrás para abrir novas unidades, a menos que a gente receba sinais evidentes por convites externos de que se abra uma nova casa. Então o futuro está nas mãos de Deus de tal maneira que somente será aberta outra casa na ocorrência de um convite explicito para isso”, finaliza Nelson Giovanelli.
Por Sérgio Botêlho Júnior