Carmem Eleonôra: a mulher que construiu pontes entre técnica, ética e empoderamento


A trajetória da engenheira civil, advogada, arquiteta e urbanista Carmem Eleonôra Cavalcanti Amorim Soares é marcada por protagonismo em áreas historicamente masculinas e pela defesa contínua da ética, da educação e da valorização feminina nas ciências e tecnologias. Atual presidente da Associação Paraibana de Engenheiras, Agrônomas e Geocientistas (APEAG), ela compartilha experiências que inspiram jovens e profissionais de diferentes gerações.

Desde a infância, Carmem aprendeu que os “nãos” que a vida impõe são trampolins para avançar. “A vida me presenteou com janelas abertas, mesmo quando as portas se fecharam”, afirma. Determinada, ela se define como uma mulher à frente do tempo, que utiliza a inteligência como ferramenta para superar desafios e transformar ambientes.

Com formação em engenharia, direito, arquitetura e urbanismo, Carmem adquiriu uma visão ampla e estratégica que permitiu integrar aspectos técnicos, legais, sociais e estéticos em sua atuação. “Essa combinação me permite trabalhar de forma colaborativa com diferentes profissionais e propor soluções completas e sustentáveis”, diz. A multidisciplinaridade também favoreceu sua capacidade de liderança em projetos e instituições nacionais e internacionais.

A atuação de Carmem extrapola os limites técnicos. Com experiência em missões internacionais, como nos congressos de engenharia na Alemanha, China e Brasil, ela reforça a importância do intercâmbio de saberes e práticas. “A vivência internacional fortaleceu minha atuação diplomática e técnica. A troca com outras culturas ampliou minha visão de mundo e trouxe inovações que adaptei à realidade brasileira.”

Ao ser a primeira mulher a ocupar cargos de destaque no Confea e na Mútua, ela afirma ter aberto caminhos para outras mulheres: “É uma honra e uma responsabilidade. A presença feminina transforma a cultura institucional e inspira futuras gerações”. Sua liderança também serviu de base para fomentar políticas públicas mais inclusivas.

Além da trajetória institucional, Carmem se destaca como autora de livros e projetos voltados à ética e à mobilidade profissional. Um dos principais marcos foi a criação do projeto “Ética nas Escolas”, que busca introduzir, desde o ensino fundamental, noções de cidadania, respeito ao bem público e combate à corrupção. “A escola é o novo espaço de formação ética, já que muitas vezes essa base não vem mais da família.”

No Rotary Internacional, onde atua pela Comissão de Diversidade, e na FAMEAG, ela desenvolve projetos de empoderamento feminino, como o “Meninas Empoderadas”, que promove rodas de conversa para que meninas compartilhem seus desafios e sonhos. “O objetivo é criar um ambiente seguro e motivador para que se sintam confiantes em ocupar espaços de liderança.”

Carmem também ressalta os obstáculos enfrentados pelas mulheres nas engenharias e ciências. “Ainda temos estereótipos fortes, escassez de modelos femininos, ambientes pouco acolhedores e dificuldades de conciliar carreira e família.” Para ela, a superação desses desafios depende de uma mudança cultural ampla e de políticas públicas que valorizem a diversidade.

Sua atuação em conselhos municipais e comissões de diversidade permitiu uma compreensão mais aprofundada das realidades sociais. “Políticas públicas inclusivas precisam ouvir todos os grupos. Só assim conseguiremos soluções realmente eficazes”, avalia.

A paixão pela leitura e escrita, incentivada desde a infância pelo pai e pela mãe, levou Carmem a integrar diversas academias de letras e a se tornar autora de artigos e livros sobre ética e mobilidade. “A escrita é uma forma de acessar as pessoas com mais profundidade e levar reflexões que transformam”, explica.

Ao ser questionada sobre qual de seus temas de pesquisa é mais relevante, responde que tanto a ética quanto a mobilidade são fundamentais. “A ética é pilar para a educação e o desenvolvimento social, enquanto a mobilidade profissional é essencial no mundo globalizado.”

Ela também deixa conselhos às meninas que desejam seguir em áreas técnicas: acreditar em si mesmas, buscar capacitação, encontrar mentoras e se posicionar com coragem. “A diversidade de perspectivas é uma força. Não tenham medo de ocupar espaços.”

Atualmente, Carmem Eleonôra também é membro do Grupo Mulheres do Brasil, da Academia da Mulher Cabedelense, da Academia Hispano-Brasileira e da Academia Brasileira Rotária. A sua produção intelectual inclui títulos como “Ética nas Escolas – Um Projeto de Cidadania” e “Mulheres Tecnológicas: Como Empoderar Meninas”.

Para ela, é possível, sim, conciliar técnica, sensibilidade, justiça e protagonismo feminino. “Meu compromisso é seguir abrindo caminhos, fortalecendo valores e incentivando quem ainda está começando a trilhar suas próprias pontes.”

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