“A agricultura brasileira ainda está muito atrasada”, diz especialista em agricultura sustentável

Em entrevista concedida ao Portal e Revista ImagineAcredite, durante a 79ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (SOEA), o professor e engenheiro agrônomo especialista em agricultura sustentável, Doutor Nardel Luiz Soares da Silva, fez um avaliação negativa da situação atual da agricultura brasileira do ponto de vista ambiental.

“A agricultura brasileira hoje se encontra, do ponto de vista econômico, razoável; do ponto de vista ambiental, ainda muito muito atrasada. Trabalhamos com a agricultura do século passado ainda! Temos muito problema de erosão de solo, destruição de nascentes e florestas para produção de alimentos. Uma agricultura moderna tem que produzir solo, produzir água e preservar as florestas e, nesse contexto, produzir alimentos”, argumentou.

Doutor Nardel também observou que o êxodo rural continua ocorrendo, principalmente na agricultura familiar, o que pode ocasionar em sérios problemas sociais e econômicos para o futuro do Brasil. “70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros são produzidos pela agricultura familiar que tem torno de quatro milhões de produtores, sendo um milhão consolidados, dois milhões em transição e um milhão de propriedades em situação de exclusão. Agora veja o impacto para a nossa economia se esse um milhão sair do campo e vir para a cidade. Eles podem não conseguir uma vida digna na cidade”, alertou.

Por conta disso, o especialista defendeu a concessão de mais subsídios governamentais para o homem e a mulher do campo, “porque ele têm que atingir uma determinada renda para permanecerem no campo”, destacou. Além disso, Nardel reforçou a necessidade do desenvolvimento de ciência e tecnologia dentro dos institutos e universidades com foco na agricultura sustentável, sobretudo voltados à produção de bioinsumos visando a substituição dos agrotóxicos, o uso de adubos mais orgânicos e menos químicos, e a inclusão de mais trabalhadores no processo e desenvolvimento de pequenas máquinas e equipamentos que facilitem o trabalho no campo, de modo que não seja tão penoso. “Então é desenvolver tecnologia adequada que preserve o solo, a água, o meio ambiente e as florestas”, salientou.

Mas não é somente isso! Na visão do especialista, também é preciso propagar os bons exemplos postos em prática em alguns estados para todo o país. “A agricultura química se desenvolveu muito por conta dos investimentos que fez em pesquisa. Se investirmos a mesma quantidade de recursos em outros modelos de agricultura, vamos ter uma agricultura mais sustentável para o futuro”, acrescentou.

A solução está na sustentabilidade

Ainda durante a entrevista, o engenheiro agrônomo destacou que a agricultura sustentável é o melhor caminho para o país seguir diante dos últimos fenômenos provocados pela mudança climática. “A agricultura familiar é a que tem mais possibilidade de ser mais sustentável, diante das mudanças climáticas, porque ela é diversificada. Então se houver excesso ou falta de chuva, as outras produções acabam compensando alguma perda, o que não acontece com os grandes produtores de soja, por exemplo”, analisou.

Diante disso, Nardel ressaltou que já há grandes produtores promovendo culturas mais diversificadas, com preservação de solo e integração da lavoura com a pecuária. “Existem agricultores grandes que são conscientes, porque viram nesse viés que a produção se torna mais rentável economicamente, socialmente e ambientalmente”, pontuou o especialista que também não considera a agricultura oriunda da Revolução Verde não consegue mais suprir as necessidades dos brasileiros.

Segundo ele, o atual modelo de produção tem um grande problema relacionado a erosão do solo, o que trará impactos econômicos futuros, uma vez que as produções exigirão mais investimentos em adubação e preservação do solo. “É importante que todos se unam em prol da produção de alimentos, da preservação do meio ambiente e da inclusão de mais agricultores no processo de produção”, enfatizou o engenheiro agrônomo.
Por fim, ele reforçou a necessidade da promoção de mais equilíbrio na distribuição de subsídios como os do Plano Safra do Governo Federal. “Cerca de 70% a 80% dos agricultores são pequenos agricultores. Então precisamos de um Plano Safra que atenda melhor esse setor da agricultura. É mais linhas de crédito com taxas de juros mais baixas! Eu sei que é difícil, mas compensa, porque quando você produz alimentos de qualidade e oferece a população a um preço baixo, você torna a economia mais sustentável. Então é viável mesmo concedendo juros subsidiados”, finalizou.

Engenheiro agrônomo, mestre em Agro e Ecosistemas e Doutor em Agronomia, Nardel Luiz Soares da Silva é professor da Universidade do Oeste do Paraná e atua no programa de pós-graduação em desenvolvimento rural sustentável nos cursos de Mestrado e Doutorado.

Por Thiago Farias

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