Na manhã da última segunda-feira, 23 de dezembro de 2019, a Rede Globo de Televisão teve a ousadia de transmitir em cadeia nacional a cantora Ludmilla cantando a música “Verdinha”. A canção tem o claro objetivo de causar no meio social a imagem de que as drogas – neste caso a maconha – além de não causar prejuízos à saúde ainda pode render uma vida financeiramente abastada.
Para se ter uma ideia da gravidade que a canção traz consigo, ela apresenta versos como: “Eu fiz um pé lá no meu quintal”, “Tô vendendo a grama da verdinha a um real”, “Vou tacar fogo em mais um”, e “Só pra não ficar maluca”. Os trechos são tão ilegalmente convidativos, sobretudo, para um menor em formação, que os sites especializados antes de a apresentar já informam que se trata de um conteúdo para maiores de 18 anos.
No entanto, o propósito de fortalecer o lobby pela legalização das drogas na consciência do povo brasileiro não obteve sucesso. Uma vez que ao invés de apoiar, a maioria da sociedade brasileira, notada por suas instituições sociais de cunho representativo, se uniram para repudiar a canção e a permissão dada pela Rede Globo para exibir uma canção de tal cunho em cadeia nacional num horário em que a maioria das crianças brasileiras estão passeando com um controle remoto de TV em busca de desenhos animados.
Para o Ministro da Cidadania, Osmar Terra, que é autor da lei que autoriza a internação involuntária de pessoas que sofrem com a dependência química, cuja maconha figura como uma das portas de entrada para o mundo das drogas, afirmou que a Verdinha é uma “afronta à sociedade” e que sua divulgação faz parte de um “lobby descarado que está sendo feito para a legalização da maconha”, tanto pela cantora, quanto pela emissora.
“[Durante o clipe] Ela fuma maconha o tempo todo, chama de apelido e diz que maconha é uma coisa boa. Isso é uma afronta à sociedade. […] A maconha é uma droga ilegal, proibida por lei. Isso é um incentivo ao consumo, ao crime, que a cantora está promovendo. E isso ser exposto em um programa às 11 horas da manhã é outro crime. O cigarro, que é uma droga legal, não tem mais propaganda na televisão. O álcool, só depois das 21 horas. E às 11 horas da manhã no programa aparece a Ludmilla em incentivando o consumo da maconha.
Por isso, quero dizer para vocês que não acreditem nessa história de maconha medicinal, pois essa droga tem 480 substâncias que causam danos irreversíveis: Retardo mental, Esquizofrenia. As pessoas que usam a maconha são as que mais dependem da assistência social, que têm menos diplomas, são as pessoas que mais usam outras drogas. Então é importante que a sociedade brasileira esteja unida neste momento contra esse lobby poderoso que é muito grande. São grandes empresas canadenses, grandes empresas americanas, grandes empresas brasileiras para impor o consumo legal da maconha no Brasil. Da maconha e depois das outras drogas também”, desmascarou o Ministro.
Além de Osmar, o Secretário Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas do Ministério da Cidadania, Quirino Cordeiro Jr., em entrevista ao jornalista Pedro Nastri, na Rádio Trianon AM, destacou que a música e sua exibição é muito preocupante, porque “Verdinha glamouriza o narcotráfico”. “Um ato que merece repúdio é a glamourização do crime. Durante o clipe da música, a cantora maneja armas de fogos, beija e lambe uma pistola e também joga dinheiro pelo alto, ostenta um recurso advindo da venda das drogas. Então nós temos uma situação completamente inconcebível a essa música que faz apologia ao plantio, venda e consumo da maconha”, disse.
E completou: “São situações que nós, como sociedade e como governo não podemos aceitar, porque o Brasil durante muitos anos acabou se acostumando com esses acontecimentos, devido a banalização dessas situações envolvendo a criminalidade e as drogas e que acabou nos levando a uma situação insustentável que vivemos no cenário das drogas no país”.
Já o deputado federal Luiz Lima (PSL-RJ) divulgou um vídeo em repúdio a música e também a sua veiculação no programa da Fátima Bernardes. “Não sei se a Rede Globo quer se autodestruir ou destruir a sociedade brasileira. Estou indignado. A Ludmilla faz parte daquele grupo de artistas que fazem qualquer coisa por like, por fã, que chacoalha a bunda na televisão, que faz apologia à maconha. Então fica aqui o meu repúdio a esse programa infeliz da Rede Globo que às 11h da manhã faz apologia à maconha”, comentou.
Enquanto o deputado federal Marcos Feliciano anunciou que protocolou uma ação que visa a cassação da concessão pública que a Rede Globo faz uso. “A Rede Globo Lixo quer destruir a família brasileira. Elogio ao uso de drogas ilícitas é conteúdo com classificação para maiores de 18 anos e só pode ser veiculado das 23h às 6h. Protocolarei denúncia no Ministério da Justiça e no Ministério da Ciência e Tecnologia [para] cassar a concessão da Globo já” escreveu em sua conta no Twitter.
Para além dos poderes Executivo e Legislativo, entidades do terceiro setor que lidam diariamente com o flagelo das drogas e da dependência química também se manifestaram em repúdio ao ocorrido. A Cruz Azul no Brasil, por exemplo, emitiu uma nota de repúdio destacando que, por lei, o consumo da maconha é ilegal “por ser altamente nociva à saúde, sob o aspecto biológico (afeta todo o sistema respiratório), aspecto neuronal (afeta a memória, cognitividade, aumento significativo do risco do desenvolvimento esquizofrenia, etc.), bem como os graves problemas de ordem social e familiar decorrentes do consumo e a dependência química”.
Além disso, a nota destaca que a Rede Globo não se preocupou com as “regras editoriais do jornalismo, da mídia, em especial, pensando no direito das crianças e adolescentes que tem proteção especial no ECA, que é outra legislação federal importantíssima que regulamenta o tema”. Por isso, o órgão fez alguns importantes esclarecimentos dentre os quais estão normativas que visam proteger as famílias e seus filhos das drogas e da dependência química.
“São leis ordinárias federais, que foram discutidas e aprovadas de forma ampla e democrática por anos pelo Congresso Nacional, fruto da vontade da grande maioria da população brasileira, sendo políticas públicas de Estado, que inclusive independem de governos. Esta atitude, afronta a democracia, ao estado democrático de direito, onde nós cidadãos e instituições estamos vinculados, submissos a legislação que é democraticamente construída para nos proteger e valer de forma igualitária para todos. [Por isso] Em nome das evidências científicas, da legislação, e do grande problema social e de saúde pública enfrentado pelas famílias deste país que sofrem as consequências do consumo e a dependência química em seus lares, repudiamos o que aconteceu”, observou a Cruz Azul.
Outro órgão que também se uniu na batalha contra a legalização da maconha, fomentada na canção de Ludmilla, foi a Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas (FEBRACT). Em sua manifestação, a federação destaca que a postura da Rede Globo, representada por Fátima Bernardes, “é uma forma de ataque a saúde mental e coletiva da população que, privada de outras formas de diversão, se rende a programação manipuladora, centrada no hedonismo e no desrespeito a cidadania do povo brasileiro”.
A FEBRACT ainda lembra que o Governo Federal freou a legalização da dita maconha medicinal junto a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e que atos como o de Ludmilla já vem sendo propagados há anos e que sempre merecerá repúdio. “A FEBRACT acompanhou durante esses 30 anos os efeitos nocivos da dependência química. As comunidades terapêuticas no mundo levam muito a sério esse debate. Por essa razão, uma rede de comunicação, cujo propósito último é informar e não deformar a sociedade, não pode banalizar questões tão importantes. Maconha é droga. Ludmila presta um desserviço ao banalizar algo tão delicado que tem, segundo pesquisa, a rejeição da maioria da sociedade brasileira”, sublinha.
Cabe destacar que o Governo Federal, diante dos graves problemas enfrentados junto as drogas no Brasil, instituiu a nova Política Nacional Sobre Drogas que visa fortalecer a prevenção, a oferta e a demanda por drogas, bem como acolher, tratar e reinserir na sociedade aqueles que outrora foram excluídos devido a dependência química.
Por Sérgio Botêlho Júnior