Durante uma audiência pública das Comissões de Assuntos Sociais (CAS) e de Educação (CE), ocorrida na última quarta-feira, 4, o Ministro da Cidadania, Osmar Terra, anunciou que será aplicado no Brasil o programa mundialmente conhecido por Planet Youth [Planeta Juventude]. A ação foi responsável por reduzir drasticamente o consumo de drogas lícitas e ilícitas na Islândia.
Em 20 anos, o programa conseguiu reduzir de 42% para 7% o consumo de álcool entre jovens de 15 e 16 anos. No período de 1998 a 2018, a redução no uso de cigarros foi de 23% para 6%, e o de maconha foi de 17% para 7%. E tudo isto se deve porque o projeto busca trabalhar com todos os fatores que envolvem a criança antes que ela chegue ao ponto de ter acesso à droga.
Para o Ministro Osmar Terra, essa experiência – que se expandiu para o Chile, Austrália, Portugal, Espanha, França, Itália, Holanda, Bulgária e Lituânia – é fantástica, pois é através de um mapeamento de risco que se consegue evitar que crianças e adolescentes iniciem o consumo de drogas.
“Esse programa teve um impacto enorme na Islândia, que deixou de ser o país que mais consumia drogas lícitas e ilícitas da Europa, para ser o que menos consome. Em 20 anos, ele virou um caso de sucesso e está sendo levado para vários lugares do mundo. […] Aqui na América Latina, o Chile foi pioneiro, depois foi à Colômbia, enfim, vários lugares do mundo, principalmente os que têm mais problemas estão adotando o programa, e nós não poderíamos ficar de fora disso. Por isso que tomamos a iniciativa de vir para cá”, disse Terra.
O anúncio causou repercussão devido as dimensões continentais do Brasil em relação a Islândia, que tem pouco mais de 400 mil habitantes. Contudo, o Ministro afirmou que isso não era problema, pois o programa seria adequado à realidade brasileira, sendo a sua aplicação nos municípios brasileiros.
“Ainda no governo anterior, em fevereiro de 2018, em pleno inverno, eu fui pra Islândia. E me surpreendeu a forma simples, objetiva e eficiente que o programa tem lá. E vi que aqui no Brasil nós poderíamos ter uma aplicação muito prática desse programa. “Ah, mas a Islândia é um país pequeno, têm 500 mil habitantes!”. Sim, mas ela não está se propondo a fazer um modelo para o Brasil todo, está se propondo a trabalhar nos municípios, e os municípios, obviamente, têm populações menores. Portanto, deduzimos que eles podem seguir esse modelo da Islândia. Esse é o segredo, a gente começar pelos municípios brasileiros a trabalhar essa questão da prevenção”, observou.
Ainda de acordo com Osmar, o governo brasileiro está em estágio avançado de interesse na aplicabilidade do programa. Tanto é que ainda no dia de ontem foi realizada uma oficina com técnicos dos ministérios da Cidadania, Saúde, Educação e Justiça. “É juntando todo mundo que nós vamos reduzir o uso de drogas no Brasil. E vamos começar por experiências piloto com a parceria do Juventude na Islândia para enfrentar esse grave problema”, defendeu Terra.
Medida urgente
Para Osmar, a aplicação do Juventude na Islândia ou Planeta Juventude, como é conhecido mundo afora, se faz necessário no Brasil, porque o país vive uma grave epidemia de drogas. A fala de Osmar contradiz a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que por meio de uma pesquisa afirmou não haver epidemia de drogas no país.
“Nós não somos só o território de passagem da droga, nós temos recordes de consumo: somos o maior consumidor de crack do mundo e o segundo maior de cocaína, e a maconha é a droga mais consumida no Brasil”, argumentou Terra, que refutou os dados da Fiocruz alegando que a sua pesquisa foi feita erroneamente e que serviu apenas para fortalecer o movimento favorável a liberação das drogas no Brasil.
“Uma crítica que faço a Fiocruz é que ela fez uma pesquisa grande com perguntas diretas. Chega na casa da pessoa e pergunta: Você consome drogas ilícitas? Isso não se usa em pesquisa sobre drogas, nessa área a pesquisa é indireta e anônima. Tu não podes fazer pergunta direta em escola, porque ninguém vai admitir e a Fiocruz se baseia nisso. Todas as pesquisas são feitas de forma anônima, com um questionário que a pessoa preenche com questões de múltipla escolha, que é colocada num envelope e depois numa urna e se pode fazer pela internet também de forma anônima”, salientou.
Diante disso, ele reforçou a tese de que o país vive uma epidemia de drogas. “Hoje uma das pesquisas mais efetivas para aferir o consumo de drogas numa população é a quantidade de metaloides no esgoto, que só aparecem quando as pessoas consomem drogas. Em Brasília, tem um professor fazendo essa pesquisa e mostra coisas impressionantes, por exemplo: temos 40 vezes mais cocaína no esgoto de Brasília do que Chicago, que é muito maior do que Brasília e que teoricamente consome mais cocaína. É assustador o que vive o Brasil, mas a Fiocruz diz que não há epidemia de drogas no Brasil”, lamentou o ministro.
Por Sérgio Botêlho Júnior e Thiago Farias