Na última quarta-feira, 11, o Senado Federal promoveu a sessão de premiação da Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara, destinada a personalidades que tenham oferecido uma contribuição relevante à defesa dos princípios internacionais que servem para proteger, garantir e respeitar o ser humano.
Entre as personalidades premiadas e reconhecidas estava frei Hans Stapel Ofm, fundador da Fazenda da Esperança, considerada a maior comunidade terapêutica da América Latina e um dos maiores centros de recuperação para dependentes químicos da Igreja Católica de Roma.
Em seu discurso, Stapel fez um apelo às autoridades constituídas no Congresso Nacional a fim de que elas barrassem toda e qualquer proposta que possa vir a legalizar as drogas no Brasil. Segundo ele, a questão da droga é algo “muito profundo, muito espiritual” e sua legalização pode pôr em risco a vida de milhares de jovens pais afora.
“Há 36 anos, eu escuto jovens por muitas noites e horas e sei quanto mal à droga provoca. Por isso, eu confirmo o que a ministra disse e peço a todos que diga não a droga. Não vão acreditar que a droga é só uma coisinha, não acreditem quando falam que em outros países foi aprovado. Eu conheço a Europa, nasci na Alemanha, e conheço a Holanda e é outra situação: pode fumar em alguns cafés, mas se saírem com uma só grama fica preso”, argumentou o frei.
O fundador da Fazenda da Esperança ainda apelou para que o Congresso Nacional Brasileiro não permitisse que as discussões inerentes à questão das drogas no Brasil fossem decididas por um pequeno grupo de parlamentares. “Eu peço: olhem para a nossa juventude e não tenham coragem de dizer sim para matar esses jovens. Eu peço também que não só um grupo pequeno decida sobre a vida de tantos brasileiros, tem que ouvir o povo! Escuta os pais e mães, muita gente está pronta, escuta!”, agravou.
O apelo realizado ocorreu porque, segundo o religioso, só conhecem os verdadeiros prejuízos causados pelas drogas quem realmente pôde conviver com ela. “Uma experiência me deixou muito contente: um jovem nosso se recuperou, depois ele estudou, se tornou policial e trabalhou na especialidade de perseguir aqueles que vendem droga. Um dia, com mais dois colegas, conseguiu pegar um caminhão cheio de drogas e o motorista desceu e disse: ‘Tenho para cada um de vocês 50 mil dólares em cash’. Ele disse: ‘Eu era dependente e sei queimar a droga fácil. Não vale a pena receber esse dinheiro, para deixar você livre e destruir o ser humano’. Depois ele me procurou e com alegria disse: ‘Frei, não vendi a minha alma e nem a minha consciência por 50 mil dólares’”, destacou.
Além do frei Hans, também receberam a Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara: a Comunidade Nova Aliança, que atua na reabilitação e ressocialização de dependentes químicos; a Rede Feminina de Combate ao Câncer de Brasília, que trabalha em busca de um atendimento humanizado na saúde pública para as pacientes; a Irmã Silvia Vecellio Sai, pelo seu trabalho à frente do Hospital São Julião (MS), referência no tratamento de hanseníase na América Latina; e ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Regina Alves, pelo seu trabalho de combate à pedofilia e na proteção da infância.
Cabe destacar que durante a solenidade, a Comunidade Terapêutica Nova Aliança esteve representada pelo seu fundador, Murilo Vieira, que comemorou o reconhecimento dado pelo Senado Federal. “O senador Styvenson conhece nossa realidade e sabe das dificuldades diárias que enfrentamos para realizar esse trabalho. Colocar em prática os verdadeiros valores humanos e receber uma homenagem desta nos faz ganhar fôlego extra para seguir em frente. Lidar com pessoas que além da sociedade, são excluídas pela própria família, é um desafio diário”, afirmou Vieira.
Toda a sessão foi presidida pelo Senador Alessandro Vieira (Cidadania/SE) que, em discurso, afirmou que essas pessoas atuantes no terceiro setor são exemplos de “vida, trajetória e compromisso” com a sociedade. Uma vez que, de acordo com ele, os homenageados reforçam a atitude de que é preciso dissociar disputas ideológicas e político-partidárias da preservação e da defesa do direito do cidadão brasileiro.
“É importante apartar completamente o momento conturbado, sob o ponto de vista da política, daquilo que é mais importante, que é a defesa inalienável, inarredável do direito do cidadão brasileiro”, justificou.
Por Sérgio Botêlho Júnior