Em entrevista ao Portal Imagine Acredite, Lúcia Inês, presidente da Casa do Menor São Miguel Arcanjo, defendeu a necessidade de investimento e de crença nas crianças e adolescentes de hoje, para amanhã termos uma sociedade mais segura e próspera. A observação dela ocorre depois da divulgação do Atlas da Violência de 2019.
Nele consta uma triste informação: em 2017, o Brasil registrou 65.602 homicídios, o que corresponde a 31,6 mortes a cada 100 mil habitantes. Deste número, 35.783 foram de jovens brasileiros com idades entre 15 e 29 anos. De acordo com o Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea), o dado é fruto de disputas entre facções criminosas que controlam o transporte e a venda de substâncias ilícitas no país.
E foi diante deste cenário que Lúcia demonstrou preocupação com os recentes cortes nos orçamentos dos ministérios da Cidadania e da Educação. Uma vez que o novo governo federal precisa ajustar as contas públicas. “Eles são ministérios cruciais num país com 13 milhões de desempregados e cerca de 46 milhões de pessoas subempregadas e que vivem numa situação muito complicada. Então se a gente corta o dinheiro da Cidadania, que abrange a assistência social, a gente coloca em risco a sobrevivência de pessoas que ainda dependem dessa ajuda.
Mas esperamos que isso seja uma medida imediata, mas que possa ser revertida para que não se tire o recurso de onde atende os mais pobres e também a educação, que é a base de qualquer país. O país que não investe em educação está condenado a não ter um futuro”, argumentou Inês que preside uma instituição que pode ser definida como um lar para milhares de crianças, adolescentes que estão em situação de risco e/ou de vulnerabilidade social e existencial.
Por isso que a instituição – que possui unidades instaladas no Rio de Janeiro, Paraíba, Alagoas e Ceará – desenvolve diversas ações no período extraescolar com os seus acolhidos. Tanto é que seu programa é dividido em quatro fases: acolhimento, desenvolvimento comunitário, profissionalização, e inserção no mercado de trabalho. Desta forma, além de assegurar a vida dos menores, a instituição, por meio de atividades socioeducativas e também de cursos profissionalizantes, entrega ao povo brasileiro cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres.
Com isso, o que chama a atenção é que todas as ações da instituição são desenvolvidas gratuitamente, graças ao trabalho de captação de recurso em Brasília e também junto as entidades de classe e religiosas, e em meio a comunidades rejeitadas pelas camadas mais abastadas da população brasileira. “Então a sociedade pode sempre esperar da Casa do Menor que ela seja sempre uma defensora dos direitos da criança e do adolescente, que ela seja sempre aquela que vai estar ao lado de quem mais precisa e daquele que ninguém quer”, destacou Lúcia Inês.
Dedicação sem limites
Além de cuidar dos menores, a citada instituição também trabalha como comunidade terapêutica, com o objetivo de resgatar vidas desgraçadas pelas drogas. Felizmente, esse modelo de tratamento tem recebido, de janeiro para cá, o devido respaldo e reconhecimento do novo governo federal, por meio da Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas (SENAPRED), liderada pelo Dr. Quirino Cordeiro Jr. “A equipe do Dr. Quirino está sempre pronta, aberta e disposta para ajudar, orientar, capacitar e nos escutar naquilo que trazemos da ponta. Então está sendo muito positiva a relação com esse ministério”, comemorou a presidente.
Nessa relação, Lúcia também comemorou a aprovação da nova Política Nacional Sobre Drogas, embora considere que algumas alterações devam ser feitas no futuro, bem como defendeu a importância da prevenção, como uma das ferramentas para prevenir novos casos de dependência química. “O Dr. Quirino tem se dedicado ao trabalho de prevenção, e acho isso de fundamental importância. Se a gente previne que nossas crianças e adolescentes entrem no mundo das drogas, o futuro da nossa sociedade será muito melhor. E é muito mais econômico evitar do que recuperar. Então acredito que o melhor caminho é a prevenção aliada ao apoio ao tratamento daqueles que já estão no mundo das drogas”, justificou.
É importante destacar que a Casa do Menor São Miguel Arcanjo tem 33 anos de história no Brasil e já ajudou a salvar milhares de vidas. E essa dedicação que exige muito do seu corpo diretivo tem origens justamente nas suas origens, pois a comunidade nasceu por meio da dor ocasionada pelo assassinato de 37 jovens na Baixada Fluminense. “Foi por meio de toda essa dor e de todo esse grito da juventude que não queria morrer, que se iniciou esse trabalho com esses adolescentes. Então o nosso objetivo é dar a oportunidade a esses jovens de não serem cooptados ou de saírem da marginalidade do mundo das drogas, do tráfico e suas consequências e ajudá-los a se inserir na sociedade, bem como acolher crianças e adolescentes”, relembra a presidente.
O desafio de tocar a Casa do Menor
Embora tenha começado com muito pouco, a Casa do Menor São Miguel Arcanjo é uma das maiores instituições do terceiro setor em atuação no país. Contudo, assim como muitas outras entidades, o seu calcanhar de Aquiles está também na garantia da sua sustentabilidade financeira. O tema é uma das prioridades da atual gestão que quer com essa garantia, dar continuidade as ações desenvolvidas e fortalecer as duas novas unidades instaladas no nordeste brasileiro.
Entretanto, a missão não é fácil. Uma vez que a obra é dirigida por duas mulheres aguerridas e que não temem os olhares e situações típicas de um país onde o machismo ainda tem grande espaço. Mas isso não chega a ser um problema para Lúcia e sua vice, Renata Barros, pois além de contar com homens no corpo diretivo da instituição, elas acreditam que a obra somente é o que é devido à ação de Deus. Por isso, mais do que qualquer obra, elas pretendem deixar um legado que faça com que sociedade brasileira estenda as mãos para aqueles que serão o futuro da nação.
“Com pouca coisa podemos dar oportunidade a milhares de pessoas de transformar a sua vida. Então que a sociedade invista nessas crianças, porque eles não serão o futuro se no presente não fizermos algo por eles”, finalizou Inês.
Por Sérgio Botêlho Júnior