Engenharia cartográfica: a base invisível que estrutura o Brasil

No Brasil, pouco mais de 1.500 engenheiros cartógrafos estão oficialmente registrados, conforme dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea). Embora ainda pouco conhecido do grande público, o trabalho desses profissionais é fundamental para estruturar e orientar projetos em diversas áreas, como infraestrutura, aviação, urbanismo e meio ambiente. Entre esses profissionais está o suboficial Antônio Viterbo Ribeiro Pereira, que há 37 anos atua na Força Aérea Brasileira e construiu uma trajetória marcada por dedicação à engenharia cartográfica e à fiscalização técnica de aeródromos em todo o país.

Sua formação começou cedo, quando optou pelo curso de Geodésia e Cartografia na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE), no Rio de Janeiro. Posteriormente, ingressou na Aeronáutica por meio de concurso e passou a integrar o Instituto de Cartografia da Aeronáutica (ICA). Lá, participou da produção das cartas aeronáuticas utilizadas na navegação aérea e realizou missões técnicas de levantamento topográfico, visitando diferentes regiões do Brasil e colaborando com a implementação de sistemas de auxílio à navegação.

Antônio Viterbo destaca que a cartografia é a base de qualquer projeto de engenharia, sendo indispensável para a definição do traçado de rodovias, pontes, barragens e aeroportos. Ao longo da carreira, ele se especializou em infraestrutura aeroportuária, segurança da aviação civil e análise de projetos de aeródromos. Atuou como chefe da Seção de Aviação Civil em Aracaju e integrou equipes de fiscalização da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), com foco nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país. “Todo projeto começa com a leitura do território. Sem cartografia, não há engenharia segura”, afirma.

Buscando ampliar sua formação, Viterbo também iniciou os cursos de Engenharia Química e Engenharia Civil e concluiu, em 2019, a licenciatura em Geografia. Para ele, a convergência entre engenharia e geografia é indispensável. “Toda obra precisa considerar o espaço geográfico em que está inserida e os impactos sociais e ambientais que pode causar. A geografia contribui com essa visão ampliada do território”, explica. Essa compreensão integrada é, segundo ele, o que garante a relevância e a sustentabilidade de um projeto.

Com o avanço das tecnologias digitais, o trabalho do cartógrafo evoluiu. Hoje, ferramentas como drones, GPS geodésico, estações totais e softwares de geoprocessamento permitem levantamentos mais rápidos, precisos e acessíveis. Ainda assim, Viterbo defende que a sensibilidade para interpretar o espaço continua sendo essencial. “O engenheiro que entende o território evita desperdícios, mitiga impactos e projeta com responsabilidade. Sensibilidade geográfica e conhecimento técnico andam juntos”, conclui.

Entre as experiências marcantes de sua carreira, ele participou da análise de objetos projetados no espaço aéreo de Brasília, como a Torre Digital e o Shopping JK, e integrou a equipe do Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), voltado ao lançamento de satélites militares. Sua trajetória é um exemplo de como o conhecimento técnico pode ser colocado a serviço da segurança, do planejamento e do desenvolvimento do país, conectando ciência, território e missão institucional.

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