O Brasil se prepara para sediar sua primeira Cúpula do G20 em novembro de 2024, uma oportunidade histórica para o país que assumiu a presidência rotativa do grupo. A cidade do Rio de Janeiro será o palco dos encontros mais importantes, começando com a Cúpula Social entre os dias 14 e 16 de novembro, seguida da Cúpula de Líderes nos dias 18 e 19 de novembro. Essa sequência de eventos marca um ponto alto no calendário global, com discussões que abrangem desde economia até justiça social e ambiental.
O Brasil, sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem dado uma ênfase especial à inclusão social, às mudanças climáticas e à reforma da governança global. Para isso, foram criados 13 grupos de engajamento no G20 Social, representando diferentes segmentos da sociedade civil, como jovens, mulheres, sindicatos, e até novos grupos focados nos oceanos e nas cortes supremas. Esses grupos têm trabalhado ao longo do ano para elaborar propostas que serão apresentadas durante a Cúpula Social.
A inovação da presidência brasileira está na interseção entre as trilhas política e financeira do G20, tradicionalmente separadas. Pela primeira vez, essas discussões serão conectadas aos grupos de engajamento, garantindo que a sociedade civil tenha voz nas decisões econômicas e políticas. Esse movimento reflete o compromisso do Brasil em criar políticas públicas mais inclusivas e sustentáveis, que abordem as desigualdades sociais, econômicas e ambientais de maneira integrada.
O grande destaque dessa iniciativa será a Cúpula Social, que reunirá cerca de 50 mil participantes, entre representantes da sociedade civil, movimentos sociais e organizações internacionais. O evento será uma vitrine para os trabalhos desenvolvidos ao longo de 2024, oferecendo um panorama das experiências e soluções propostas por atores não-governamentais para enfrentar desafios globais como a pobreza, a fome e as mudanças climáticas.
A presidência brasileira também coloca a questão climática no centro dos debates. Em um mundo cada vez mais pressionado pelos efeitos do aquecimento global, o Brasil, com sua vasta riqueza ambiental, especialmente na Amazônia, está buscando liderar a transição para uma economia verde. Durante a Cúpula, espera-se que soluções inovadoras de sustentabilidade sejam discutidas, como a bioeconomia e o uso de energias renováveis, que já são bandeiras importantes do governo brasileiro.
Além disso, o Brasil defende reformas nas instituições de governança global, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, para que os países emergentes tenham maior participação nas decisões internacionais. Esse debate é crucial para equilibrar as relações de poder e garantir que as políticas globais beneficiem também as nações em desenvolvimento.
Participação popular
O envolvimento da sociedade civil em eventos como a Cúpula Social é visto como uma maneira de democratizar os debates do G20. Temas como a erradicação da fome e da pobreza, e a necessidade de políticas agrícolas mais inclusivas, têm sido discutidos amplamente pelos movimentos sociais e organizações da sociedade civil, que buscam soluções para esses problemas complexos.
Durante as reuniões preparatórias, foi destacado que a erradicação da fome requer a democratização do acesso à terra e a promoção da agroecologia, que já se mostraram eficazes em várias partes do mundo. Esses debates refletem a visão do Brasil de que as soluções para a crise alimentar global devem ir além do agronegócio.
Outra questão central nas discussões será a luta contra as desigualdades. O Brasil tem usado sua experiência histórica com programas sociais, como o Bolsa Família, para propor uma agenda que combina transferências de renda com transformações estruturais, garantindo a autonomia econômica das populações mais vulneráveis.
No campo do trabalho, os grupos de engajamento têm reforçado a importância de valorizar as micro e pequenas empresas, a economia solidária e a agricultura familiar, essenciais para a segurança alimentar global e para a criação de empregos sustentáveis.
A questão das mudanças climáticas será um ponto crucial durante as discussões da Cúpula. Como um dos maiores exportadores de produtos agrícolas e líder em biodiversidade, o Brasil tem uma posição privilegiada para propor soluções globais que conciliem a proteção ambiental com o desenvolvimento econômico. A bioeconomia, por exemplo, será uma das principais apostas do Brasil para mostrar que é possível produzir de maneira sustentável e inclusiva, beneficiando tanto o meio ambiente quanto as populações mais vulneráveis.
A reunião também servirá como plataforma para discutir a transição energética global, com foco na expansão do uso de energias renováveis. O Brasil, com seus vastos recursos naturais, especialmente na produção de energia limpa como o hidrogênio verde, poderá apresentar soluções viáveis para uma transição energética que ajude a combater as mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, gerar crescimento econômico.
Por fim, espera-se que as discussões sobre reforma da governança global ganhem força durante a Cúpula. O Brasil, junto com outros países do Sul Global, tem defendido que as instituições financeiras internacionais devem ser mais inclusivas e refletir melhor a realidade econômica atual. Isso inclui aumentar a participação dos países emergentes nas decisões do FMI e do Banco Mundial, garantindo que suas vozes sejam ouvidas nas questões que afetam diretamente suas economias.
Agenda repleta de temas urgente
Os países participantes incluem as principais potências globais: Estados Unidos, China, Índia, Alemanha, Japão, Rússia, Reino Unido, França, Itália, Arábia Saudita, África do Sul, Turquia, México, Brasil, Argentina, Canadá, Coreia do Sul, Austrália e Indonésia, além da União Europeia e da União Africana, que foi recentemente integrada como membro permanente do G20. Juntos, esses países representam mais de 80% do PIB mundial e cerca de 75% do comércio internacional, consolidando o G20 como um fórum essencial para a discussão de questões globais.
Um dos principais objetivos da cúpula deste ano é buscar soluções para a desigualdade econômica, com uma proposta brasileira em destaque: a criação de um imposto global sobre os ultrarricos, que poderia arrecadar até 250 bilhões de dólares por ano. Essa iniciativa visa financiar ações de combate à pobreza e ao impacto das mudanças climáticas, questões centrais para o Brasil e para outras nações em desenvolvimento.
No campo do comércio internacional, as tensões entre Estados Unidos e China devem dominar as conversas. Ambos os países adotaram políticas industriais agressivas, e o impacto dessas medidas no comércio global preocupa não apenas as grandes economias, mas também as nações em desenvolvimento, como o Brasil, que busca equilibrar sua dependência de exportações para a China com a necessidade de proteger sua indústria interna.
Outro tema central será a crise habitacional global, com líderes debatendo formas de garantir moradias acessíveis e sustentáveis em todo o mundo. O objetivo é promover políticas que incentivem o desenvolvimento de habitações de baixo custo, especialmente em países afetados por conflitos e mudanças climáticas.
A guerra entre Rússia e Ucrânia também deverá ser um ponto delicado durante a cúpula. Embora o G20 não seja um fórum destinado à resolução de conflitos geopolíticos, a presença da Rússia, apoiada pela China, e de países ocidentais, como Estados Unidos e seus aliados, pode criar tensões nas discussões, especialmente em relação à segurança alimentar e energética global.
A transição digital e a governança tecnológica também serão abordadas, com destaque para o papel da inteligência artificial e da automação na economia global. As discussões buscarão garantir que as inovações tecnológicas sejam reguladas de maneira a promover o crescimento econômico sem agravar as desigualdades sociais.
Equipe Imagine Acredite na cobertura
A equipe da revista Imagine Acredite estará presente na cúpula para fazer uma cobertura completa do evento. Os jornalistas Sérgio Botelho Junior e Thiago Farias, juntamente com o repórter cinematográfico Fábio Neves , acompanharão de perto as discussões, reportando as decisões e os desdobramentos que poderão impactar não apenas o Brasil, mas também o cenário econômico e social global, com vídeos, entrevistas, matérias para as redes sociais, site e revista.
Por Tércia Diniz
Foto: Reprodução/Governo Federal