Sempre ativa e muito altiva, a engenheira civil, arquiteta, urbanista e advogada Carmem Eleonôra Amorim, atual presidente da Associação Paraibana de Engenheiras, Agrônomas e Geocientistas (APEAG) e ex-Conselheira Federal de Engenharia e Agronomia, é uma daquelas personas muito referenciadas pela engenharia em todo o território nacional, devido a todas as suas contribuições ao longo das últimas décadas. Presente na 79ª Semana Oficial da Engenharia e Agronomia (SOEA), realizada em Salvador, ela concedeu uma breve entrevista à Revista ImagineAcredite.
Na ocasião, Carmem afirmou que, embora muitos a considerem uma fênix a procura de voos mais altos, ela é uma mulher resiliente e solidária. “Eu estou sempre disposta a ajudar a todos e nasci com o intuito de servir”, declarou a mulher que quando criança, demonstrava vocação nas atividades de consertos domiciliares e se destacava na liderança esportiva e acadêmica de onde estudava com sua irmã.
Os destaques nos ambientes esportivos e acadêmico a levou para a Universidade Federal da Paraíba, onde cursou – de forma simultânea – os cursos de Engenharia Civil e Arquitetura. Nessa época, ela mantinha boas notas e acabou por embarcar na Diretoria Social do Clube de Engenharia da Paraíba e no Sindicato dos Engenheiros, onde iniciou o processo de sindicalização dos novos profissionais, o que a impulsionou dentro no movimento em defesa das bandeiras de sua categoria profissional.
Por isso, ainda na graduação, Carmem participou do primeiro Encontro Nacional dos Sindicatos dos Engenheiros, realizado em 1979, e depois de formada iniciou trabalhos em prol de sua classe. “Fui Conselheira do CREA-PB, em 1981, e tomamos gosto. A partir de 1984, comecei a participar dos eventos do Confea, além de irmos para as reuniões de Coordenadoria de Câmara e como o CREA, naquela época, não tinha dinheiro, eu ia com o dinheiro do meu bolso, porque ganhávamos muito bem. Fui para diversas semanas de engenharia para representar o CREA da Paraíba e ai fui conhecendo o mundo do Confea”, relembrou.
Carmem também se engajou na luta pelas Diretas Já, movimento que a fez levar para dentro do Conselho Regional de Engenharia da Paraíba as eleições diretas para os membros da diretoria. Tempos depois, ela acabou eleita tesoureira e, ao ter sua posse anulada pelo Conselho Federal, se articulou com os demais colegas que a escolheram para representá-los na última entidade citada. No Confea, ela chegou em 1991 como a primeira mulher eleita e a mais jovem de todo o Brasil. Mas a luta por sua categoria não pararia por ai!
Uma mulher contra o machismo
Quando tomou posse no Confea, Amorim tinha 33 anos e uma propositura: Colocar mulheres na diretoria do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia. “Fui falar com o presidente e ele disse que no ano seguinte, eu seria a vice-presidente. Desfiz a proposta, conversei com aqueles que estavam descontentes, formamos uma chapa e eu fui eleita para a diretoria contra a vontade do presidente”, conta.
À ImagineAcredite, Carmem Eleonôra ressaltou que um dos maiores desafios enfrentados foi ser feminina em um ambiente predominantemente masculino. “Mas tinha um detalhe muito importante e que era o diferencial: Eu estudava muito e o conhecimento é o que faz você ser alguma coisa na vida e não o dinheiro. Eu tinha duas graduações e duas pós-graduações e ainda estava terminando o curso de Direito, então eu tinha domínio do que era o Conselho, conhecia e conheço a legislação inteira”, destaca.
Carmem também deu protagonismo ao Conselho Federal de Engenharia em 1987, quando trabalhou na elaboração do Capítulo da Mulher da Constituição Federal de 1988. “Essa foi outra grande conquista da minha vida!”, celebra a atual presidente da APEAG.
Uma voz em defesa das mulheres e da ciência
Depois de três anos como Conselheira Federal e mais 20 de colaboração com o órgão via consultoria, Carmem Eleonôra Amorim lamentou o fato de existir muitas barreiras para as mulheres. “É muito difícil isso, porque até hoje existem essas barreiras. Eu cheguei ao topo de engenharia classista, mas hoje nós temos poucas conselheiras federais e isso já faz 32 anos Então pensamos com o grupo de mulher, que foi reativado e foi, realmente, criado um comitê gestor pelo presidente Joel Krüger, que disse que temos um compromisso de ter uma associação de mulheres engenheiras em todos os estados brasileiros. A partir disso, fundamos – com o auxilio das nossas amigas de profissão – a Associação Paraibana de Engenheiras, Agrônomas e Geocientistas.
Diante disso, Carmem afirmou que após a abertura da associação, o grande desafio passou a ser o de enfrentar o paradigma de não ter mulheres na área tecnológica. “Então nós começamos a trabalhar essa questão da mulher. […] Temos o Mulheres Tecnológicas Empoderando Meninas – que é uma iniciativa para fomentar o desejo pela ciência e tecnologia nas meninas. Nosso pontapé inicial será em Cabedelo no dia 24 de outubro”, acrescentou.
Carmem Eleonôra também defendeu a realização de rodas de conversas com mulheres, com o objetivo de promover a troca de experiências, fomentar o empreendedorismo e novas lideranças. “Temos também a secretária das Mulheres e Diversidade da Paraíba, que tem esse olhar de empoderar pessoas e de trazer as mulheres para um patamar de amplitude. O Sebrae também, onde temos a questão do empreendedorismo aberto e as mulheres ficam muito bem no empreendedorismo. Tem a plataforma Mulheres.tech, que tem vários cursos de diversas áreas para empoderar essas mulheres”, observou.
E completou: “Nós estamos montando um curso para instalação elétrica para ser ministrado com pessoas da comunidade, serão as engenheiras eletricistas que darão esses cursos. Então é fazer o trabalho de desenvolver cursos de capacitação e com isso a sociedade vai ver, vai sentir e vai aprovar o trabalho que estamos fazendo nas escolas secundárias para que no futuro tenhamos mais cientistas e engenheiros no mercado de trabalho”.
Por conta de tudo isso e olhando a sua biografia, Eleonôra deixou uma importante mensagem para as jovens engenheiras: “Tenha resiliência, tenha força e busque o aperfeiçoamento do seu conhecimento. Trabalhe também a inteligência emocional, porque é preciso ter um emocional bem controlado para vencer os desafios do machismo, da discriminação, porque as mulheres, durante o sistema de trabalho, quando ficam mais velhas, não são aproveitadas nas grandes obras e a gente tem que mostrar que a mulher não deixa de ser competente por conta da idade, ela continua competente e eu tiro por mim que tenho 66 anos de idade, 45 de profissão e estou a frente de vários desafios para auxiliar as pessoas na busca de um lugar ao sol”.
A engenharia e a necessidade de mais representatividade
Ao final da entrevista, Carmem ressaltou que as mulheres do setor devem estar preocupadas também em formar uma corrente para serem conselheiras regionais e integrantes das entidades de classe nos cargos de direção.
“Além disso, nós temos que trabalhar para que nós, mulheres, estejamos no parlamento. Queremos mais engenheiros e engenheiras, agrônomos e geocientistas nos parlamentos municipal, estadual e federal, porque se a gente tem mais profissionais, nós temos a facilidade de ter um mundo mais limpo, cidades sustentáveis e política públicas essenciais para as mulheres e para a sociedade no contexto geral. Nós, enquanto profissionais de entidades de classe, temos a responsabilidade de auxiliar governantes, comunidades e dizer tecnicamente o que é saudável e mostrar o campo sustentável para toda a sociedade”, reforçou.
Questionada sobre a falta de representantes da categoria eleitos nos parlamentos, Carmem afirmou que isso se deve a falta de articulação da categoria. “Nossa categoria é desarticulada. Falta articulação! Porque nós tivemos Joel Krüger, que foi candidato a deputado federal; tivemos Vinícius Marchese, candidato a deputado federal; tivemos a Rose candidata a vereadora, então tivemos várias pessoas do Sistema candidatos e não conseguimos conscientizar o nosso público”, lamentou.
E finalizou: “A gente precisa ter bandeiras dentro do Sistema, principalmente nas entidades de classe. A gente precisa fortalecer as entidades, porque elas não têm recursos financeiros, os recursos que tem são dos CREAs, porque a entidade é bancada por um profissional. Agora mesmo estamos com um Projeto de Lei no Congresso Nacional para que haja recurso do CREA destinado para a entidade começar esse trabalho de conscientização de colocar políticas públicas em primeiro lugar e termos parlamentares nos defendendo”.
Por Thiago Farias