Há décadas, as comunidades terapêuticas têm realizado um brioso trabalho em prol da recuperação de vidas desgraçadas pela drogadição e outros males que afetam o bem-estar psicológico dos seres humanos. Foi por isso que, nos últimos quatro anos, elas ganharam um papel de destaque na política nacional de cuidados e prevenção às drogas, com o importante apoio do Governo Federal.
Segundo um levantamento feito pela ImagineAcredite, somente entre os anos de 2020 e 2021, o Governo Federal financiou a recuperação de cerca de 120 mil dependentes químicos acolhidos em comunidades terapêuticas. Cabe destacar que esse acolhimento atendeu àqueles cidadãos que, devido às suas condições socioeconômicas, não tinham a mínima condição de custear um tratamento em uma clínica particular, como muitos barões espalhados pelo Brasil, e que perambulavam à margem da sociedade como mais um esquecido da pífia política pública de redução de danos.
Contudo, setores da sociedade brasileira ainda teimam em não reconhecer o importante trabalho que essas instituições desempenham, ao não somente recuperar dependentes químicos, como também dar-lhes dignidade, fé em dias melhores e uma oportunidade de ingressar no mercado de trabalho. Uma prova dessa insistência fantasiosa está em uma reportagem publicada no último dia 29 de outubro, pelo Metrópoles, que busca levantar suspeitas sobre a destinação de R$ 75 milhões em verbas federais de combate ao Covid-19 para as comunidades terapêuticas.
No texto, a reportagem destaca que os R$ 75 milhões foram aplicados entre os anos de 2021 e 2022 e que o covid-19 já matou 688 mil pessoas no país. Entretanto, a reportagem não informa que, durante a pandemia, principalmente no período de lockdown, as CTs desempenharam outro grande trabalho ao acolher moradores de rua, que geralmente viviam consumindo drogas, que não possuíam nenhuma expectativa de vida e que ainda estavam expostos ao vírus mortal que circulava em cada canto deste país.
Além disso, o texto questiona o crescimento do aporte financeiro do governo federal às CTs, mas não informa que essas entidades foram negligenciadas pelas autoridades públicas do Brasil durante anos e que mesmo assim, seguiram resgatando vidas consideradas perdidas. Sendo assim, ficam os seguintes questionamentos: Que mal tem o poder público investir em meios que salvam vidas? Que mal tem reverter recursos da pandemia para entidades que, durante a pandemia, abriram suas portas e passaram a cuidar daqueles que ninguém queria cuidar? Por que insistir que essas comunidades não têm legitimidade para tratar as pessoas, quando a realidade mostra o contrário?
A ImagineAcredite entende que boas e péssimas entidades, assim como boas e más pessoas existem em todos os setores da sociedade. E tudo o que é ruim merece e deve ser rigorosamente combatido. Mas o justo não pode pagar pelo pecador, porque milhares de vidas são recuperadas todos os dias pelas CTs, basta ouvir os testemunhos que podem ser conhecidos por qualquer brasileiro que tenha acesso à internet ou que pessoalmente se disponham a conhecer essas entidades. Portanto, afirmar – como o psiquiatra Deivisson Vianna Dantas dos Santos afirmou ao Metrópoles – que as comunidades terapêuticas são a cloroquina da saúde mental é tão leviano quanto afirmar que a política de redução de danos deu certo no Brasil.
Por fim, é importante lembrar que as Comunidades Terapêuticas e seu legado diário são maiores do que qualquer governo ou ideologia. Não é a toa que elas têm e continuarão resistindo bravamente aos ataques maliciosos, respondendo com um trabalho que mais do vidas, resgatam e promovem as famílias.
por Sérgio Botelho Junior