Um caso lamentável foi registrado na região do baixo São Francisco, em Sergipe. É que o atual Bispo da Diocese de Propriá, Dom Vitor Agnaldo de Menezes, resolveu acabar o trabalho iniciado por seu antecessor, o saudoso Dom Mario Rino Sivieri, falecido no último dia 03 de junho, e deu seis meses para que a Fazenda da Esperança desocupasse um terreno que lhe foi cedido pela Diocese há 15 anos e por um período de 30 anos.
E como se não bastasse a arbitrariedade da decisão, o clérigo ainda se utilizou da ironia e justificou que a decisão de retirar a Fazenda da Esperança da comunidade terapêutica situada em Gararu (SE), decorre do interesse da Diocese de Propriá em assumir os trabalhos de recuperação de dependentes químicos e ali fundar a “Fazenda Dom Mario Rino Sivieri”.
“É de total interesse da Diocese de Propriá intensificar e aperfeiçoar a obra fundada por nosso inesquecível Dom Mario, de modo a melhor atender as necessidades dos recuperandos que lá se tratam”, disse em nota. Nela, Dom Vitor ainda argumenta que também está trabalhando para fundar a Fundação Dom Mario Rino Sivieri “como forma de perpetuar o legado do nosso terceiro Bispo”.
Entretanto, o clérigo parece desconhecer a biografia do seu antecessor. Uma vez que expulsar a Fazenda da Esperança significa expulsar um sonho pelo qual Dom Mario deu toda a sua vida, com viagens e peregrinações a fim de edificar a Fazenda da Esperança em Sergipe, estado em que conseguiu fundar três comunidades terapêuticas: 02 no município de Lagarto e 01 em Gararu.
Mas Dom Vitor foi mais além, pois vendo que a decisão repercutiu negativamente em todo o Sergipe, ele afirmou que ela foi tomada em comum acordo com a Fazenda da Esperança e que a medida não representava o fim de um litígio existente entre a sua diocese e a obra. Contudo, na última terça-feira, 30, o Presidente Geral da Fazenda da Esperança, Padre Luiz de Menezes, emitiu uma nota afirmando que a instituição recebeu a notícia, no último dia 12 de junho, com muita surpresa. Uma vez que o espaço havia sido cedido à obra por 30 anos.
Por isso, ele afirmou que Dom Vitor quebrou sim uma parceria entre a Fazenda da Esperança e a Diocese de Propriá. “A Presidência da Fazenda da Esperança esclarece que sua permanência em cada localidade deve ser sempre em profunda comunhão e aprovação do bispo local, sendo que neste caso, atendendo ao pedido de Dom Vitor Agnaldo de Menezes lamentamos muito ter que efetuar a desocupação do local e encerrar as atividades de Gararu-SE, que ocorrerá no mínimo em seis meses”, acrescentou.
O Padre Luiz de Menezes ainda informou que, nestes seis meses, a Fazenda da Esperança aguardará uma proposta de doação de algum terreno para transferir as atividades de Gararu, “a fim de dar continuidade ao desejo de Dom Mario Rino Sivieri, que sempre apoiou a Fazenda da Esperança e fundou três comunidades no estado de Sergipe”, finaliza.
É importante frisar também que a decisão do chefe da Diocese de Propriá não foi bem-vista por setores da Igreja, bem como da política sergipana. Para muitos, se a intenção era homenagear Dom Mario Rino Sivieri, bastava solicitar a Fazenda da Esperança que batizasse a unidade com o nome dele, já que ela é a única do Brasil que não possui um nome próprio.
Última decisão do tipo também não pegou bem
Há alguns anos, um administrador diocesano em Garuva, em Santa Catarina, após a morte do então Bispo de Joinville, Dom Irineu Roque Scherer, resolveu expulsar a Fazenda da Esperança de um terreno que havia sido cedido a obra. Naquela época, a investida do padre caiu por terra quando o novo Bispo foi nomeado. Pois este decidiu manter os trabalhos da Esperança.
Cabe destacar que a Fazenda da Esperança já é considerada uma obra da Igreja Católica de Roma. Tanto é que ela foi reconhecida pelo então Papa Bento XVI, que em 2007 fez questão de visitar a Fazenda das Pedrinhas, em Guaratinguetá-SP. Lá, ele pediu para que os presentes fossem Embaixadores da Esperança.
Por Sérgio Botêlho Júnior e Thiago Farias